Capítulo 4

442 29 24
                                    

Manon ficara em dúvida se deveria pousar nos jardins do castelo, e os guardas com arcos a postos na muralha provaram que seu receio continha certa validade. Porém, depois de se aproximar mais alguns metros as armas foram abaixadas. Se de algum modo tinham reconhecido Abraxos ou se fora por ordem do rei, ela não sabia.

O rei que agora estava parado na frente dela.

Dorian parecia tão desconcertado quanto ela se sentia, embora ao contrário de Manon, tivesse feito pouco esforço para esconder. Tantas emoções passaram pelos olhos cor de safira, aqueles que ela não via pelo que parecia uma eternidade, que a rainha mal conseguiu identificá-las. A que ela mais percebeu foi preocupação.

A bruxa permaneceu imóvel. A máscara de frieza que colocara no rosto, uma que usara por mais de cem anos, permanecia intacta. Ainda assim Dorian tinha reparado em algo para olhar para ela daquele jeito, o sorriso que tinha surgido em seu rosto se esvaneceu um pouco.

Manon esperou as perguntas que não gostaria de responder, que a lembrariam de todos os aspectos e pessoas com quem ela tinha falhado. As perguntas que todos faziam sem parecer pensar que despertariam o pior tipo de sentimentos. Mas o que ele perguntou foi a última coisa que ela esperava.

— Posso abraçar você? — Dorian pediu em voz baixa, quase como se não pretendesse que ela realmente escutasse.

Manon não respondeu. Tanto por estar surpresa, quanto por não saber o que dizer. Então ela não disse nada, não com palavras, pelo menos. O corpo dela se moveu antes da mente, e o pequeno passo que deu na direção do rei foi resposta o suficiente para ele.

Dorian passou os braços em volta dela, da mesma forma que tinha feito em Terrasen. Aquilo desbloqueou uma torrente de sentimentos tão confusos que a rainha não se moveu, e demorou alguns segundos para abraçá-lo de volta.

Ela podia vê-lo de novo, sentado na varanda, em frente a uma mancha escura que ela não precisava de confirmação para saber que um dia fora Erawan. O rei valg que causara aquela guerra, que tirara de Manon o que lhe era mais importante.

Não vai encontrá-las. Neste céu ou em nenhum outro.

A tristeza tinha sido palpável no rosto de Dorian quando ele entendera, apesar de ter passado tão pouco tempo com elas. Ele não tinha perguntado nada, a abraçara sem se importar com qualquer outra coisa, e ela ficara tão sem reação quanto estava agora.

A rainha percebeu naquele momento, que aquele era um dos motivos para que ela o tivesse deixado chegar tão perto, de um jeito que ninguém se importara ou fora ousado o suficiente para fazer antes. Talvez fosse, no fim, um dos motivos para ela estar ali.

Dorian nunca tinha esperado nada de Manon além do que ela quisesse oferecer.

Ela não conseguia deixar de notar as semelhanças, mesmo com os meses de diferença. O modo como Dorian a segurou firmemente, e deixou que ela apoiasse a cabeça no ombro dele. Ela se distraiu, seguindo a linha azul escura da túnica que ele usava. A gola escondia a cicatriz branca em volta do pescoço. O cheiro dele, que a lembrava de uma manhã calma de inverno a envolveu, e a tranquilidade que aquilo trouxe a ela a surpreendeu. Ele não fez nenhum esforço para se afastar, e ela, mesmo sabendo que deveria, não fez também.

Não até que um par de passos se fez ouvir perto da porta por onde o rei tinha saído, indo na direção dos dois. A bruxa ergueu a cabeça então, e ele se afastou, o rosto tão neutro quanto o dela. Chaol Westfall e Yrene Towers passaram por Abraxos alguns segundos depois, a última com um sorriso largo no rosto.

O casal iniciou uma pequena reverência, mas meio pensamento sobre o que eles tinham passado na guerra e Manon se encontrou dizendo que aquilo não era necessário.
Yrene levou a mão à barriga, que agora tinha uma protuberância visível. Pelo cheiro, muito mais presente e fácil de identificar do que da última vez que Manon vira a curandeira, era uma menina.

𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora