O estopim

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Claire observou Hipólita andando ao seu redor. A loira  estava de pé em cima de uma placa de pedra, com símbolos do idioma antigo desenhados por toda a superfície. Não foi difícil decifrar a tradução:

"Feitor e quebrador de feitiços; Conjurador de bençãos e maldições; Pertencente aos anjos e aos demônios; Patrimônio de Deus e de Lúcifer."

E, escrito em letras garrafais no centro, as palavras nas quais Claire pisava: "Espelho da Ambiguidade".

— Isso por algum acaso vai doer? — a loira perguntou, nervosa.

— Provavelmente, mas é necessário. — Hipólita disse, movendo as mãos em movimento bem coordenados, um brilho quase invisível surgindo de seus dedos e caindo no chão. — Agora fique totalmente em silêncio e respire devagar.

Claire fez o que ela mandou, fechando os olhos e puxando o ar lentamente, segurando o oxigênio por três segundos e soltando devagar. Fez isso uma, duas, três, quatro vezes, quando tentou mover os pés em uma posição mais confortável e percebeu que não podia.

Abriu os olhos e olhou para baixo, tentando levantar um dos pés, apenas para perceber que a sola de seus sapatos estavam presos ao chão, ambos.

Ergueu o olhar, vendo Hipólita diante de si, os olhos fechados e as erguidas para cima, os lábios se movendo enquanto dizia alguma coisa em volume baixo.

A loira tentou se acalmar, dizer para si mesma que tudo daria certo, que ficar presa ao chão provavelmente fazia parte.

Até que sua cabeça começou a doer tanto que ela achou que iria explodir. Gemeu de dor, levando ambas as mãos a cabeça.

— Hipólita. — chamou, a respiração se tornando rarefeita enquanto a dor se alastrava por todo o corpo, causando uma agonia cada vez mais crescendo. — Hipólita!

Ela não respondeu e, movida pela necessidade de acabar com a dor, Claire tentou sair da plataforma de novo. Não deu certo e ela se desesperou.

— Hipólita! — a dor aumentou e Claire aprumou a postura, jogando a cabeça para trás, encarando o céu com uma expressão quase catatônica no rosto.

O sigilo, desenhado no peito da loira, se ascendeu  com uma luz dourada, tal qual seus olhos e ela já não sentia nada.

Era como estar no limbo, ela via tudo e ao mesmo tempo nada, sentia cada célula do corpo e então nenhuma, era todo mundo e então não era ninguém.

Ela sentia alguma coisa nas veias, magia, sangue. Sentia cada pulsar do coração, batendo rápido e forte, incômodo, porém vital.

E então, ela sentiu a magia explodir para fora do corpo, uma grande rajada de magia, um enorme farol de luz que lançou em direção ao céu.

Ela parou de sentir e seu corpo atingiu o chão com um baque mínimo, a magia flutuando em ondas ao seu redor.

Magia que não tinha nada mais para segurar e o grande farol continuou aceso, iluminando toda a ilha com magia angelical...

... Chamando a atenção de anjos e demônios.
•°•°

Dean e Castiel estavam prestes a embarcar em um navio com as crianças quando aconteceu. Primeiro, foi um calafrio na espinha, um agitamento na magia dos dois.

E então, o completo alarde.

Mesmo tão longe, eles sentiram a energia da explosão de magia, tanta magia que deixou os dois tontos, desnorteados.

Eles sabiam exatamente de onde vinha, a direção exata na qual teriam que voar para alcançar a fonte daquela magia.

E, quando a fixa caiu, quando perceberam de quem era a magia, o desespero os preencheu totalmente.

— É a Claire. — Jack disse, os olhos arregalados, olhando na direção na magia. — É a magia da Claire.

— Temos que ir até ela agora! — Castiel disse, ignorando que estavam cercados de pessoas e agarrando o colar que usava, abrindo um portal até a filha. — Pulem!

E pularam. Jack foi primeiro, sendo seguido de perto por Sarah, Belphegor e então, Dean. Castiel foi logo atrás, fechando o portal depois de entrar.

A cena que encontrou o fez entrar em desespero imediato.

Claire estava caída no chão a alguns metros, imóvel, o corpo expelindo magia angelical descontroladamente. Dean, Sarah e Belphegor estavam sofrendo por conta dessa magia. Estavam longe o suficiente para não começarem a pegar fogo de uma vez, mas próximos o suficiente para sentirem dor.

— Vocês três, fora daqui! — Castiel mandou, se colocando diante deles e abrindo as asas, fazendo um escudo, os acompanhando enquanto Dean guiava os outros dois demônios para uma distância segura.

Jack foi até Claire, se ajoelhando diante da irmã. Ela estava acordada, mas não parecia conseguir se mover.

— Jack...

— Claire, você está com dor? — o loiro perguntou, pegando a mão da gêmea. A pele dela estava quente, muito mais do que deveria.

— Eu não sei, é uma sensação esquisita. — ela disse, franzindo o rosto. — Quero que pare.

— Vai parar, mas você tem que se concentrar, manter a magia dentro de você.

— Eu não consigo, Jack...

— Você consegue, mas tem que se concentrar. — o rapaz disse, percebendo quando Castiel voltou correndo, caindo de joelhos ao lado da filha.

— Claire, meu amor... — o moreno disse, acariciando o rosto da filha com ternura. Mesmo para ele, um anjo, estar diante de tanta magia era incomodo. — Você está bem?

— Estou tentando ajudar ela a manter a magia no corpo, mas eu só aprendi a fazer isso agora. — Jack murmurou e Castiel direcionou um sorriso compassivo ao filho, balançando a cabeça para indicar que tinha entendido.

— Claire, feche os olhos e respire profundamente. — o moreno instruiu, mantendo a voz calma, apesar da situação ser urgente. Os anjos e os demônios já deveriam estar se preparando para ir atrás dela, poderiam já estar chegando na ilha. — Agora, eu quero que você visualize sua magia, a cor dela, a sensação dela, a textura... — falou, olhando ao redor, querendo ter certeza de que nenhuma ameaça se aproximava. — Eu quero que você imagine essa magia sendo trancada dentro de você. Só você tem a chave para solta-la, ela não pode sair sozinha. Imagine isso uma, duas, três vezes, até eu disser que basta.

Levou pelo menos dez minutos até que o brilho de magia intenso ao redor dela começou a se apagar e Castiel respirou aliviado quando a coluna de luz angelical que se erguia em direção ao céu apagou.

De qualquer forma, não ia adiantar muito, o céu e o inferno com certeza já tinham visto o sinal, já estavam a caminho.

Castiel pegou Claire nos braços e se levantou. Tinha uma Amazona caída alguns metros a frente, inconsciente. Ela parecia ter sido lançada até onde estava e Jack prontamente foi até ela, a pegando no colo também.

Ambos foram até onde Dean e os outros estavam, andando o mais rápido que podiam, porque a guerra estava prestes a começar.

E começaria naquela ilha, se tivessem sorte, em alguns poucos minutos.

O altar do ressurgir//DestielOnde histórias criam vida. Descubra agora