Capítulo 60 - Os desígnios do universo

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ANNE

Estavam na primavera, e Anne não podia imaginar estação melhor que aquela. Ela amava o colorido, os aromas, a sensação de recomeço que aquilo lhe causava, a ideia de que o mundo ficava mais bonito, leve e esperançoso.

Esperança era uma palavra forte e otimista, e era a palavra mais usada por ela nos últimos dias. Sempre fora cética em relação à algumas coisas, mas em relação ao seu futuro com Gilbert, era a palavra esperança que colocava seu sonho de amor à frente de tudo.

Sua pequena mala estava arrumada em cima da cama, e em poucas horas estaria a caminho do hospital. Sua cirurgia aconteceria ainda naquela tarde, por isso, ela se agarrava às pequenas coisas que pudessem mantê-la focada e tranquila.

O jardim de sua mãe estava particularmente luminoso naquele dia. Havia tanta mistura de cores, que seus olhos se perdiam entre elas fascinados. Era seu lugar favorito naquela casa, onde passara sua infância até atingir sua maioridade e viver por sua própria conta.

Só voltara nos dois últimos meses por conta de sua enfermidade, mas estava feliz por ter conseguido reunir as melhores lembranças de sua infância, e as juntar a todas as outras que tinha agora, pois conseguira recuperar tudo o que pensara ter perdido, e isso incluía sua família.

O barulho de passos perto da porta a fez olhar diretamente para ela, e ver Gilbert entrar com um dos seus mais lindos sorrisos. Não tinha tanto brilho como os que costumava receber dele no passado, pois havia uma certa nota triste que ela esperava que desparecesse em poucos dias, mas ainda assim era um sorriso que ela amava e que vinha direto ao seu coração.

-Pensei que ainda estivesse descansando. - ele disse, se aproximando dela, e a abraçando pelas costas.

-Não consegui ficar mais tempo na cama. Acho que estou ansiosa demais.- Anne confessou encostando a nuca no peito de Gilbert.

-Precisa ficar calma. Você se lembra do que o médico te disse não é?- a preocupação dele era nítida em sua voz, e no último mês depois do casamento, ele se tornara um companheiro ainda mais devotado do que antes. Embora Anne nunca tivesse lhe perguntado o que tinha lhe passado pela cabeça em vários momentos em que ele se trancava em um silêncio reflexivo, ela podia muito bem imaginar o caos de suas emoções.

-Não estou nervosa, apenas ansiosa para que tudo isso acabe logo. Quero ir para nossa casa, e começar nossa vida juntos de verdade . - ela disse, continuando a fitar o jardim. Ali estava a tranquilidade que precisava para sua alma.

-Eu também. - Gilbert respondeu, deixando beijo no topo de sua cabeça, e a maneira como ele segurou em sua cintura e a apertou de encontro ao peito, fez Anne perceber sua aflição.

-Você diz para eu ficar calma, mas está mais nervoso do que eu.- Anne falou, olhando-a por cima do ombro e encarando o rosto tenso do marido.

-Desculpe, eu não consigo evitar. - Gilbert confessou, entrelaçando seus dedos nos dela.- Você não sabe o que é para mim te ver passando por isso, e não poder fazer nada.

-Você já faz, querido. A maneira como me ama é toda força que preciso para enfrentar tudo o que está por vir. - Anne respondeu, se virando de frente, e tocando o maxilar dele com a ponta dos dedos. Se ele soubesse que era aquele amor que a salvava todos os dias, e que a fizera chegar até ali com sua fé intacta. Não precisava de mais nada para fazê-la acreditar, que iriam superar mais esse obstáculo e viver em paz a vida em comum que lhes fora destinada .

-Não está com medo? - Gilbert perguntou de forma significativa.

-Não. De certa forma, estou em paz. Não quero sentimentos negativos dentro de mim nesse momento. E você?- ela perguntou, acariciando os cachos escuros com carinho. Gilbert tinha o rosto mais lindo que já tinha conhecido, e poder vê-lo todos os dias ao acordar era como ter uma visão de um anjo no paraíso.

Anne with an E-  flames of the past- AUOnde histórias criam vida. Descubra agora