Ponto crucial

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KEISA

Dizem que a dor é um ponto crucial de sobrevivência mas eu estava recusa em acreditar que a minha maior cicatriz era uma marca de heroísmo, nenhum ser humano deveria ser escravo da sentença para ser considerado mais forte.

Eu já não conseguia mais distinguir o que era real e o que era alucinação, os números que estavam gravados nas costas de Isac enquanto ele machucava meu corpo estavam presos dentro da minha cabeça quando eu ocasionava em repetir em voz alta com sussurros trêmulos que eu não podia controlar.

Quando o capitão entrou na porta e encontrou o corpo de Isac em chamas, seus olhos me condenaram como se eu fosse todas as coisas ruins que estavam ao redor dele, como se eu fosse responsável por mais de um crime após matar o homem que estava me machucando, e então eu estive perto de compreender que não importava o que eu fizesse ou quem eu fosse ele sempre me odiaria. Não precisava de explicações para que ele me culpasse sem que eu dissesse uma única palavra, e seu punho colidiu violentamente contra meu maxilar fazendo meu corpo despencar no chão com o segundo soco daquela noite.

Lembro que eles estavam gritando coisas das quais eu não conseguia entender, mas o pai de Isac estava furioso enquanto chutava meu estômago e pisava em meus dedos, até que estivesse sobre mim tomando tudo o que o filho tomou anteriormente. A voz de Ivarsen tinha um gosto do começo de céu mas eu não tinha certeza de que direção ela era conduzida.

Aquela vulnerabilidade que abraçava meus instintos, era o resultado de que não importa o qual você tente se encaixar nunca será aceito se for apenas mais uma peça solta entre todas entrelaçadas. Mas eu era filha de alguém, era a irmã de alguém, era a mulher de alguém e não deveria deixar que me tratassem como se eu não fosse nada.

Eu não sabia o momento em que os gritos de ódio contra mim haviam se misturado com os de desespero de Heloise enquanto minha mãe estava de joelhos como se implorasse pela minha misericórdia. Mas eles haviam acabado comigo, não apenas de uma forma metafórica, mas também de uma forma da qual eu sentia a dor de um inferno caindo sobre tudo que eu era feita.

O capitão estava em uma ligação quando minha mãe estava tentando me cobrir com o que sobrou da minha camiseta, o cheiro da carne de Isac queimando estavam impregnado em mim como uma imprecação.

— Que merda se passa na sua cabeça, Keisa? — meu pai estava perto do meu rosto — Acha que pode tirar minhas coisas sem levar algum tipo de punição?

— Isso não foi o suficiente? — minhas palavras saíram quebradas, o sangue seco quase me impossibilitando de abrir os lábios.

— Não, nenhuma punição será o suficiente para você, sabe porque? — ele estava segurando uma paciência que eu não conhecia muito bem — Você não pertence à essa família, você não pertence à lugar nenhum. Eu não posso acobertar suas traições da mesma forma que acoberto as de Heloise, ela sim é minha filha e por isso sempre perdoei enquanto ela fodia com um Torrance, mas você... Não há nada que possa te salvar de mim.

— Não estou pedindo que me salve ou me aceite, nunca pedi por nada disso! — a raiva estava forte, ardendo em meus olhos.

— Pai? — Heloise estava chamando o capitão como se pudesse me livrar das coisas ruins que ele tinha para mim. Ela estava na porta com o braço preso entre as mãos de um soldado.

— Toda vez que eu olho para você, eu vejo o maldito Senador. Sua mãe é uma prostituta, eu nunca me livrei dela porque eu queria que Heloise tivesse uma mãe que pudesse contar como eu nunca tive, e eu consegui tirar você da sua mãe... Porque você não merecia ter uma, mas principalmente, ela não merecia ter uma filha dele... — ele disse cuspindo em mim. — Mas veja, Heloise é uma mulher agora, e ela não precisa mais de uma mãe. — minha mãe e Heloise choravam e eu não entendia o que as palavras do capitão significavam — Ivarsen Torrance, o líder da matilha do qual come sua boceta está pedindo você viva. Ele estará atravessando a ponte em... — olhou no relógio de ouro em seu pulso — dez minutos, eu estarei lá com uma mensagem... Talvez, não tão viva assim.

Hunting - Ivarsen Torrance Onde histórias criam vida. Descubra agora