Oitenta cômodos

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KEISA

Demorei um tempo consideravelmente exorbitante no banho para tirar toda a sujeira que Ivarsen causou em meu corpo, mas eu amava deixar cada parte de mim suja por todas as sensações que ele manipulava em minha pele. Certa vez fizeram-me esquecer o qual bom era o toque dele, mas novamente Ivarsen conseguiu acordar a parte de mim que ansiava por seu toque mais áspero possível.

Quando saí do banheiro Ivarsen ainda estava no andar de baixo preso no computador daquela mesa bagunçada com papéis rabiscados com planos dos quais eu não entendia os meados, eu entendia apenas os objetivos mais diretos: tirar seu irmão do buraco do qual o esconderam.

Aproveitei o momento para fazer um café forte que mantesse seus neurônios funcionando perfeitamente da forma que não deveriam funcionar ao passar das quatro horas da manhã. Ivarsen tinha um diferencial de mim, ele até poderia ter uma raiva que falava alto, mas ele quase nunca agia sem pensar muito antes, o que para mim era quase impossível.

Meu homem só esquivou os olhos do computador quando eu coloquei a caneca de café diante do seu alcance.

— Sem açúcar, do jeito que você gosta. — comentei me posicionando por trás da cadeira da qual ele estava sentado. Era difícil vê-lo sentado diante daquela mesa, ele sempre gostava de estar maior que os propósitos. — Isso pode demorar um pouco, você deveria dormir.

O computador ainda tentava processar as coordenadas numéricas das quais estavam presas em minha cabeça antes de que eu passasse para Ivarsen jogar no sistema. Era uma possibilidade em um milhão, talvez nem fossem coordenadas de verdade, mas Iva estava focado em desvendar o que estava escondida por elas.

— Você vai dormir assim? — ele virou o rosto e encarou minhas pernas nuas.

Eu estava vestindo apenas uma calcinha confortável e uma camisa que pouco cobria minha pele.

— Estou feia? — eu sorri tentando entender.

— Está gostosa, — Ivarsen olhou para as meias em meus pés. — e fofa.

— Eu gostaria que você fosse deitar comigo. — simplifiquei me aconchegando em seu braço que envolveu minha cintura empurrando meu corpo para o lado dele.

— Vou trabalhar daqui duas horas, não é vantagem dormir agora. — Ivarsen levou minha mão até a boca e beijou meus dedos carinhosamente. — Você sim deveria dormir, fique na cama o tempo que precisar, eu te acordo para o horário do almoço.

Quando Ivarsen saiu, ficou difícil de pegar no sono, eu nunca havia dormido sozinha no depósito e as paredes metálicas estalavam o tempo inteiro. Ao desistir de tentar entrar na bolha do sono tranquilo decidi que gastar a energia fosse como um remédio para a minha insônia.

No momento em que eu descia a escadaria um barulho balançou os poros dos meus braços com arrepior gélidos, havia alguém no depósito, e parecia mais ser alguma ilusão alimentando meu medo.

Desci devagar caminhando pelos cantos mais escuros do cômodo como se a sombra fosse capaz de cobrir meu corpo, minha mão alcançou uma faca deixada na bancada próxima e eu a segurei com força entre meus dedos. Ao avançar mais para dentro do escuro foi como se o medo me engolisse para dentro de um sentimento ruim de pânico incorrigível, mas ao alcançar a porta que dava acesso ao andar subterrâneo meu corpo foi erguido do chão ao mesmo tempo em que uma mão grande cobria a minha boca.

A sensação de vulnerabilidade fez um demônio gritar dentro de mim, como se aquele gesto levasse lembranças tenebrosas demais para tensionar todos os meu ossos e queimar minha pele até que ela não fosse mais nada além de carne carbonizada. Abri minha boca e mordi a mão que antes pressionava meus lábios com força, a voz masculina rosnou e deu passos para trás.

Hunting - Ivarsen Torrance Onde histórias criam vida. Descubra agora