Epílogo

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                              IVARSEN
                            
                      Cinco anos depois.

O barulho dos pingos grossos caindo do chuveiro e espatifando no chão foi a primeira coisa que assimilei após acordar. Minha cabeça apoiada em meu braço dobrado por baixo dela se ergueu um pouco enquanto eu continuava de bruços, os fios do meu cabelo atrapalhavam um pouco minha visão e a saliva seca ao canto da boca deixou-me um pouco anojado, embora eu soubesse que esse era o símbolo campeão de um bom sono, e fazia muito tempo que eu não dormia assim.

Levantei da cama, abandonando o macio quente dos meus lençóis para seguir pelo corredor. Ao cômodo ao lado bati na porta do banheiro e um choramingo engraçado surgiu através da porta de madeira branca.

— Você foi para o banho sozinha?

— Você estava dormindo com a boca aberta, bobão! — gritou de volta e eu quase ri.

— Tudo bem. — respondi contendo o riso — Não demore, temos um compromisso muito importante.

— Okay!

Sorri comigo mesmo. Poderia até parecer besteira se preocupar com o fato da sua filha de cinco anos estar tomando banho sozinha pela primeira vez, mas há coisas das quais só fazem sentido para os pais e o tamanho da minha preocupação sobre tudo que envolvia Darla era maior do que qualquer coisa que exigise meu cuidado. E isso é uma coisa que só descobri quando uma parte minha veio ao mundo.

Ainda lembro de quando encontrei um desenho com a fisionomia da minha filha que sequer pensava em existir no estúdio de Fane em meio aos seus rascunhos, ele havia dito que ela estava em um sonho, mas ninguém nunca soube dizer quem era aquela garota até que Darla completasse três anos de idade. Ela havia se tornada idêntica ao desenho de Fane, a pele clara, o cabelo fino em um tom quase branco de loiro e os enormes azuis.

Eu não acreditava em nada religioso, mas havia começado a entender mais do lado espiritual e intuitivo do mundo. Tanto que permiti a escolha de Keisa em presentear nossa filha com o nome do espírito da garotinha que a ajudou encontrar Fane na França.

Darla tinha muito de mim e pouco de Keisa. Precisávamos fazer outro bebê para tentarmos outro mais parecido com ela.

Falar de Keisa era como engolir uma pedra, mas eu precisava ficar forte para que Darla se sentisse bem longe da mãe, e mais forte ainda para que Keisa se sentisse segura longe da filha. Hoje vai completar um mês que minha mulher saiu em missão, seu curso militar exigiu presença física para os preparativos antes da formação do cargo.

Keisa muitas vezes comentou sobre querer desistir, embora eu nunca lhe dissesse sabia que seu medo estava relacionado ao nosso ciclo familiar. Ela não queria transmitir a sensação de abandono para nossa filha da mesma forma que sua família transmitiu para ela.

Mas quem estava sentindo a verdadeira sensação de abandono era eu. Nós três conversámos todos os dias antes de dormir, Darla morava em uma bolha de jujubas e arco-íris, mas tudo o que eu queria era olhar para a minha mulher sem ter uma tela gelada entre nós.

Preparei o café da manhã observando atentamente o calendário circulado de caneta rosa no dia 25. Mamãe finalmente voltaria para casa, como general das forças armadas do país.

Os pés de Darla bateram forte contra o piso enquanto ela corria na direção da cozinha, ao encalço de Sturk. Eu sempre precisava segurar meu próprio coração quando ela o fazia, era uma especialista em derrubar coisas e criar hematomas pela pele.

A pequena menina estava com o cabelo loiro preso de forma bagunçada como se estivesse dormido e acordado assim, porém de banho tomado e macacão rosa.

Hunting - Ivarsen Torrance Onde histórias criam vida. Descubra agora