Evidências

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                                 KEISA

Foi naquela semana que percebi o qual horrível contos de fadas eram. Planejar um casamento era uma tortura lenta mesmo acompanhada de muito analgésico e copos de água. Eu não tinha ideia do que eu queria, não sabia qual das diversas opções de vestidos era a mais adequada para mim e para decoração da catedral, eu só sabia que queria terminar onde eu e Ivarsen nos encontrássemos sozinhos em uma casa pequena e aconchegante.

Nada de cerimônias gigantescas, nada de pessoas, apenas nós dois.

Terminei o copo de água o deixando sobre a pia da cozinha e caminhei na direção do quarto de Ivarsen. Ainda não havíamos abandonado a residência dos Torrance, Ivarsen queria continuar perto do irmão e eu queria respeitar essa decisão tão importante na vida dele, afinal, ele havia sacrificado muita coisa por Fane, inclusive quase sacrificou seu amor por mim.

Enquanto atravessava a sala de estar maior uma sombra se moveu perto da janela. Olhei com mais atenção e reconheci os ombros largos de Damon Torrance, sua silhueta era muito semelhante à de Ivarsen.

— Damon? — murmurei devagar.

— Sou eu. — respondeu-me — Pode ligar a luz?

Queria perguntar porquê ele mesmo não levantava e o faria, mas conhecia meu sogro o suficiente para saber que ele me jogaria da janela.

Estiquei a mão até o interruptor e as luzes voltaram à vida lentamente em um laranja fraco. Meu sogro estava sentado de frente para a mesa de xadrez que ele e Ivarsen costumavam usar quando queriam conversar sobre seus problemas.

— Jogando sozinho no escuro? — eu sorri com um pouco de sarcasmo, quase me arrependendo de o fazer.

— Gosto de organizar as peças no escuro quando perco o sono. Foi algo que Winter me ensinou durante tantos anos de casamento, agora eu também sinto o cheiro de muita coisa graças a exigência da minha esposa cega de me fazer perceber o mundo igual à ela.

— Isso é bonito.

— Tudo sobre minha mulher é bonito.

Eu não iria descordar das evidências.

— Quer jogar uma partida?

— Não sou boa com xadrez. — tentei fugir.

— Não foi o que Ivarsen me disse. — levantou uma sobrancelha com o questionamento.

— Tudo bem, apenas uma.

Sentei de frente para o pai do meu noivo e começamos o jogo em silêncio. Eu nunca havia trocado muitas palavras com ele, tudo o que eu sabia era dito por outras bocas. E esse tudo não era equivalente à muita coisa boa, Damon Torrance era o cavaleiro mais temido na cidade.

— Ivarsen não queria te contar nada antes do casamento, mas eu quero fazer isso... Porquê você é a primeira pessoas que precisa saber. — começou me deixando um pouco ansiosa sobre o que ele diria à seguir.

— Ivarsen está escondendo algo de mim? — perguntei com o disparo dramático do meu coração apenas de pensar na possibilidade.

— Ele não está escondendo, ele só não quer te preocupar enquanto resolve todas essas merdas de casamento. — explicou.

— Ele está me traindo? — disse a primeira coisa que pensei.

— Não, não é nada disso. — me olhou através dos cílios grossos após mover mais uma peça na minha direção.

— Então diga!

— Muita gente, escondeu muita coisa de mim... Por muito tempo. — disse como uma confissão que nunca havia dito para mais ninguém — Coisas que mudariam a minha vida se alguém houvesse me dito antes.

Hunting - Ivarsen Torrance Onde histórias criam vida. Descubra agora