Medo

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KEISA


Aquela seria uma batalha da qual eu não sairia vitoriosa, eu sabia.

O toque dele forçando minha cabeça era resistente o suficiente para sentir o barulho estalando do vidro sendo forçado. Se ele usasse um pouco mais de precisão em mim, certamente o vidro grosso se tornaria cacos em baixo de nós dois enquanto caíamos na praia pois seu corpo estava apoiado em mim como se eu fosse a única coisa sólida naquela sala.

Medo me corroía por dentro alastrando-se com um frio estridente na região do umbigo e no amolecer de minhas pernas.

De repente todas as decisões idiotas que fiz ao decorrer da vida me pareceram espertas demais. Eu havia recebido todas as bandeiras vermelhas de que algo não sairia bem enquanto eu estivesse com aquele homem do qual a boca do meu pai amaldiçoou horas atrás. Mas de nada adiantava remoer se eu terminasse morta.

Foi quando percebi que seu corpo estava em mim, em toda parte, como se fosse uma parede em minhas costas me apertando no precipício da morte.

Posicionei as mãos nas janelas tentando afastar-me minimamente do local que já começara doer na região do rosto. Eu deveria lutar, gritar e correr. Mas eu vacilei quando perdi todo controle do meu corpo para ele, e era ridículo demais admitir.

Sua mão livre entrou dentro da minha roupa tocando minhas costas com um objeto afiado. A ponta arranhou minha pele sem machucar, subindo e descendo com os movimentos que ele comandava.

— Isso é bom? — perguntou se curvando sobre mim, deixando seu rosto próximo da minha bochecha.

Eu não iria responder que sim mesmo que fosse bom o suficiente para deixar-me desconcentrada em tudo ao redor só para me conectar em mais daquilo. Arrepios eram causados pela carícia perigosa e o latejar em minhas pernas crescia em sincronia.

Merda.

— Sim. — respondi em súplica.

— Meu nome é Ivarsen Torrance. — disse em uma aproximidade perigosa. — Agora que sabe meu nome, pode chamar por mim quando sentir medo. Deus pode até ouvi-la, mas só eu poderei lhe responder.

— Você vai me matar agora?

Um pergunta idiota de uma garota idiota. Meus olhos se encheram de lágrimas, não pelo medo, mas sim pelo constrangimento. Sua risada rouca tocou minha bochecha com seu hálito quente. Um cheiro estranho de cigarro e chiclete de menta me conduziram à um gemido baixo.

— O que te faz pensar que te matarei?

— Você me tem imobilizada contra uma janela de vidro, com algum tipo de faca em minhas costas... — eu disse o óbvio. — Seria fácil para você.

— Mas isso me tornaria um covarde — tocou meu rosto com o seu, me fazendo sentir a barba rasa que estava crescendo. — Matar uma garotinha indefesa sem sequer dar à ela a chance de lutar por sua vida.

— Eu não quero lutar por minha vida.

Aquilo era verdade. Não lutaria por minha vida, se fosse passar o restante dos dias trancada em uma jaula luxuosa atendendo todos os pedidos das pessoas ao meu redor como se minha opinião não valesse de nada, era aceitável que eu morresse. Viver por alguém não é o mesmo que viver por você.

— Se não quer lutar por sua vida, então procure um motivo pelo qual lutar.

O mundo pareceu voltar a rotacionar quando o aperto contra mim se afrouxou, a faca abandonou minhas costas e Ivarsen se afastou de mim deixando o rastro do seu cheiro de cigarro e alguma espécie de colônia refrescante. Tentei acalmar as batidas descompensadas do meu coração com a mão no local onde quase doía, tentei respirar devagar mas tudo parecia errado dentro de mim.

Hunting - Ivarsen Torrance Onde histórias criam vida. Descubra agora