Keisa
Uma onda de vento arremessou com força contra a aba da janela. A madeira bateu fazendo um estrondo horrífero percorrer pelas camadas da minha pele, como um frio silencioso ao encalço do letal. E eu soube, era a noite do diabo.
Quando olhei através da janela, a noite estava subindo pelo céu como uma manta de escuridão prestes à exterminar o alaranjado que já não passava de uma pequena porcentagem de céu limpo prestes a cair em trevas. Não iria demorar muito para que a caçada começasse, e terminasse em ressaca no túmulo de Edward Mclanahan.
Não éramos mais jovens, sequer estávamos no ensino médio. Embora Drag e Gunnar fossem os únicos da família envolvidos com o basquete, a noite do diabo já não era mais sobre jogos: era sobre nós.
Ivarsen esteve estranhamente silencioso durante a semana, pensei que talvez hoje fosse um bom dia para intimidar ele sobre. Algo estava por acontecer, eu podia pressentir rastejando pela minha coluna.
Observei Darla arrastando a colher na tigela de purê de batatas com manteiga que preparei para seu jantar quando Ivarsen deveria pegar o cesto de roupas sujas no andar de cima. Olhei para a minha filha e depois olhei para os degraus da escada. Alguma coisa indescritível chamava por mim, e eu jamais deveria negar meu instinto.
— Espere a mamãe aqui embaixo. —alertei minha menina, que afirmou obediente.
Subi degrau por degrau ouvindo a ranger mais alto do que jamais estivera, mas eu sabia que não era uma questão física da madeira, era apenas o medo deixando-me angustiada por tudo que me cercava. Atravessei o cômodo que dedicamos ao lazer com duas poltronas beirando um verde claro, a mesa de centro enfeitada com giz de cera colorido e folhas rabiscadas por Darla.
— Ivar? — chamei por meu marido mas não houve nenhuma resposta — Ivarsen?
Adentrei mais o andar pelo corredor e o cesto de roupas estava posicionado perto da porta que dava acesso até nosso quarto, o escritório do outro lado da porta exigindo minha retaguarda para pegar minha mini Uzi. Mas eu não sabia a gravidade da minha situação para pensar em fuzilar meu inimigo, quando tudo que ele poderia querer era a diversão da noite do diabo.
Avancei passando pela mesa de escritório ao lado do cesto deixado para trás, posicionei minha mão por baixo da madeira e onde deveria ter uma pistola presa com uma fita rente à madeira apenas um veslumbre de poeira agarrou a ponta dos meus dedos. Somente eu e Ivarsen sabíamos dela, ninguém mais poderia saber.
— Ivarsen?
Estava prestes a abrir a porta do quarto quando a energia da propriedade caiu. Darla gritou da cozinha e eu desaparecia escada à baixo tropeçando de forma cega no último degrau, o barulho do meu osso sendo deslocado me causou enjôo enquanto eu tateava a madeira do assoalho procurando por firmeza para levantar.
— Filha? — chamei por Darla mas nada além do meu gemido de dor no meio do escuro.
Não importava que tipo de situação fosse, qualquer uma que envolvesse minha filha como vítima seria origem de toda minha raiva revestida da força. E eu mataria qualquer coisa que causasse a dor de Darla.
Apoiei a mão na mesa e consegui erguer meu corpo devagar, ao pressão do meu pé no chão quase me fez gritar mas eu já havia sentido dores piores e em nenhuma delas eu tive a chance irrevogável de ter a minha filha na mira de qualquer coisa que estivesse invadindo a minha casa.
— Darla?!
Minha filha não estava mais na mesa, senti quando tentei pegá-la da cadeira. Sem pensar duas vezes, abri a primeira gaveta do armário ao me arrastar até ela, uma faca de corte foi o primeiro utensílio que encontrei para usar como ferramenta de morte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hunting - Ivarsen Torrance
Romance"Você sabe o motivo da rainha ser a peça mais poderosa do tabuleiro?" O homem mais forte que ele conheceu era um erudito em jogos estratégicos de tabuleiro. Ele havia lhe ensinado as peças mais poderosas em um jogo de legado e como movê-las em segre...