Lealdade

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                                  IVARSEN

Haviam se passado algumas semanas desde que a saudade de Fane estivera me esmagando brutalmente. A falta de alguém que costumava ser constante em todos os seus planos pode te destruir por completo se você não for forte o suficiente para transformar o sentimento em ódio,e era o que eu estava fazendo quando jogava tudo para cima de Keisa como se ela fosse a única culpada, como se eu não quisesse acreditar no peso da culpa que puxava meus ombros para baixo.

— De novo.

Passei a mãos pelo rosto em frustração sentindo a barba espetar minha palma. Eu sequer havia percebido o qual longo fora o tempo que estive sem fazê-la.

— Já é a quarta vez. — meu pai alertou. Era quarta vez que eu encarava o meu rei caído sobre o tabuleiro. Minha maior peça de poder despencou quatro vezes porque minha rainha não esteve na posição certa para protegê-lo. — Você só está frustrado com tudo que está acontecendo. É preciso se render quando o jogo está perdido, ou irá aumentar o próprio estresse.

— Desde quando você pensa assim? — questionei encarando Damon Torrance. — Sempre ensinou que deveríamos levantar e tentar novamente.

— Não em todas situações. — disse. — Aprendi com o tempo que é muito mais fácil aceitar o jogo perdido.

— Você não parece tão preocupado.

— Estou tentando manter a calma enquanto nossos advogados trabalham, não quero sobrecarregar sua mãe. — confessou. — Mesmo que eu não consiga mais dormir e que eu queira invadir aquele lugar para tirar meu filho de lá.

— Você me daria a permissão?

— Do quê está falando Ivarsen?

— De invadir.

Os olhos do meu pai estavam sobrecarregados com manchas escuras embaixo, mas eu só conseguia pensar no peso da suas íris ocasionando um pouco de decepção ou então cansaço.

— Não ouse.

— Eu sei que você está tentando me proteger, mas quem vai proteger Fane?

— Eu vou proteger Fane. Vou pagar pela segurança dele lá dentro. — apoiou os cotovelos na borda da mesa onde o meu jogo perdido estava posicionado ao meio de seus braços. — Não faça nada estúpido. Não até que seja realmente necessário fazer algo.

O silêncio pesou por minutos e eu não iria lhe fazer uma promessa se eu não tivesse a intenção de cumpri-la. Eu tinha uma porcentagem mínima de paciência comigo desde que levaram Fane, e eu realmente não sabia quando essa pequena quantidade iria acabar.

— Tem alguma notícia da garota? — Damon Torrance perguntou. — Keisa Blonder.

Uma dor agonizante prendeu na região de minha têmporas quando meu pulso dilatou com as batidas do meu coração. Pensar em Keisa era como se eu tivesse corrido uma maratona em busca da minha sobrevivência, fugindo de um monstro grande pronto para me devorar.

— Eu não quero falar sobre ela.

— Falar sobre ela te incomoda?

— Sim. — respondi com um pouco de aspereza na ponta da língua. — Acho que culpar ela é mais fácil do que culpar à mim mesmo.

Os olhos do meu pai procuraram pelos meus.

— Todos nós cometemos erros, Ivarsen. — disse. — Aquele dia em que sua mãe me ligou eu descontei tudo em você de forma muito agressiva, e eu jamais havia usado a força física com os meus filhos, mais tarde aquilo tirou o meu sono também. Mas encarar que o erro foi inteiramente meu fez com que as coisas ficassem mais leves para mim.

Hunting - Ivarsen Torrance Onde histórias criam vida. Descubra agora