Capítulo 3: Teddy

179 12 0
                                    

Naquele mesmo dia recebi uma ligação dos meus pais.

Eu amava os meus pais, mas sempre tínhamos alguns desentendimentos, como o fato de eles acharem que eu "já passei da idade de achar uma namorada" e ainda escutarem todos os boatos da faculdade sobre o meu relacionamento com as garotas e acreditarem, então sempre que eles me viam eles me perturbavam com isso. Sempre perguntavam o porquê de eu não ter uma namorada e ficavam me enchendo o saco por causa disso, o que sempre resultava em eu irritado e os meus pais indo embora mais cedo por estarem chateados comigo.

Meus pais moravam em outra cidade, enquanto eu morava em um dos apartamentos no campus que a instituição oferecia, o que diminuía o nosso contato.

Assim que atendi o telefone consegui escutar minha mãe falando com uma voz sorridente:

- Oi, Theodore!

- Oi, mãe. A senhora sabe que eu não gosto quando me chamam de Theodore.

- Aaaa para de ser chato! Eu te carreguei por nove meses e agora não posso te chamar do nome que escolhi?

- Por favor, mãe! – Eu disse, já sabendo que alguma hora a nossa conversa pioraria.

- 'Tá' bom, Teddy! – Ela disse, dando ênfase no meu apelido de um jeito irritado e meio que irônico – Então, umm... no final da próxima semana é o seu jogo, né? E... umm... eu e seu pai estávamos pensando em passar aí para assistir e, não sei... talvez, passar um tempo por aí e, sei lá, para não gastarmos com hotel e essas coisas, pensamos em ficar com você no apartamento da faculdade, mas só se você quiser. É que nós lembramos de você ter comentado uma vez que tinha um quarto pequeno sobrando aí.

- Umm, semana que vem? No meu apartamento? – Eu perguntei meio surpreso com a aviso em cima da hora.

- Sim! E, não sei, vai que dessa vez você tem alguém para nos apresentar! – Ela disse e eu já sabia que, do outro lado, ela estava com um sorrisinho malicioso.

Sei que não foi a ideia mais inteligente da minha parte, mas eu já estava cansado de ouvir os meus pais perguntando por uma garota, então fiz o que qualquer um faria. Menti.

- Ah, sim, claro! Vai ser bom vocês virem para conhecer a minha namorada! – Eu disse, com um sorriso forçado, torcendo para a minha mãe não perceber que eu estava mentindo.

Escutei minha mãe dando um gritinho de felicidade e logo em seguida chamando meu pai.

- Jeff, querido, vem aqui! Teddy tem uma notícia para nos dar.

- Aaaaa oi, campeão! O que queria dizer? – Escutei meu pai falando.

- Eu... eu 'tô' namorando. – Eu disse, com a voz baixa, me arrependendo da mentira que inventei.

- Namorando!? Mary, você ouviu o que o nosso menino disse? Ele tem uma namorada! – Meu pai disse, com uma felicidade enorme na voz – Ela é bonita, garoto? Como ela é?

Não sei o que passou pela minha cabeça, mas a primeira pessoa que veio na minha cabeça foi Dayana, a garota do refeitório, então decidi descrevê-la.

- Sim, ela é! Ela é muito bonita. Umm, ela tem cabelo comprido cacheado, olhos verdes e pele morena. Com certeza a menina mais bonita que eu já vi!

Não sabia onde eu arrumaria alguém que se encaixasse nessa descrição e muito menos se a verdadeira "musa" da minha namorada de mentira aceitaria entrar nessa comigo, mas tempos desesperados exigem medidas desesperadas.

- Uau! Ela parece ser mesmo bem bonita, filho! Qual o nome dela? – Foi a vez da minha mãe perguntar.

- Umm, Day... Dayana! – Eu disse, me arrependendo imediatamente por ter dito aquele nome.

Como eu conseguiria enfiar a amiga do Golden nessa comigo?

Conversamos mais um pouco até dar a hora da minha próxima aula, mas, sinceramente, não me lembro de nada, pois estava tão tenso e nervoso com a situação que eu havia me metido que estava difícil de me concentrar.

Me despedi dos meus pais, desliguei o celular e fui para a aula de estatística.

Assim que cheguei na sala, me sentei na primeira fileira, abaixei minha cabeça e esperei pelo início da aula.

Quando eu ficava ansioso ou nervoso eu não conseguia me concentrar em nada e apenas ficava brincando com os meus dedos ou chacoalhando a perna para tentar me concentrar em pelo menos uma coisa, nem que seja algo irrelevante. Então foi o que eu fiquei fazendo a aula inteira.

Ao final, eu estava andando em direção a porta para ir embora, quando de repente eu trombei com a garota do refeitório.

Calma! A garota do refeitório!? Dayana!? A mesma que eu menti para os meus pais e falei que estava namorando!?

Eu entrei em desespero assim que percebi que a última peça de todo esse quebra-cabeça estava bem na minha frente.

- Umm, desculpa! Eu... eu não vi você vindo. – Eu disse, tentando parecer o mais normal possível e indo embora antes que ela pudesse falar qualquer coisa.

Sem perceber, meus pés me guiaram até o meu apartamento onde eu me joguei de cara na almofada do sofá e fiquei lá tentando desaparecer.

Meus pais estariam na minha casa daqui uma semana e eles ainda achavam que eu estava namorando. Uma garota que eu vi pela primeira vez no refeitório era quem eu, supostamente, estava namorando, mas nunca trocamos uma palavra sequer.

Ouvi alguém batendo na minha porta. Ou melhor, alguém esmurrando a minha porta e quando abri vi o meu melhor amigo parado do outro lado.

- Eu agradeceria se você deixasse a porta onde ela 'tá'. – Eu disse num tom sarcástico, arrancando uma risada do Dylan.

- O que aconteceu? Eu vi você saindo correndo da sua aula.

- Eu menti para os meus pais falando que eu 'tô' namorando e "aconteceu" de a minha namorada imaginária se parecer muito com a garota que eu vi no refeitório. – Eu disse fazendo aspas com os dedos – E eu acabei de trombar com ela na saída da aula. Ah, é mesmo! A gente tem a mesma aula de estatística. – Eu completei, fingindo entusiasmo.

- Ouuuu!!! Calma aí! Os seus pais acham que você 'tá' namorando a Dayana, a amiga do Golden? – Ele perguntou enquanto ria e eu concordei com a cabeça.

- E, o pior! Meus pais vão vir semana que vem para assistir o nosso jogo e ainda querem conhecer a minha "namorada". – Eu disse, entrando em desespero, novamente.

- Cara, não tem como eu te dizer para ficar calmo, porque você com certeza fez merda – Dylan disse, enquanto eu o fuzilava com os olhos pelo comentário – Mas eu posso muito bem te dizer para conversar com ela e pedir para ela te ajudar. O Golden disse que ela é legal e ela parece ser de boa. Com certeza ela vai aceitar te ajudar!

Eu ri, achando que o meu melhor amigo estava zoando com a minha cara, mas quando o olhei ele estava sério, sem nenhum resquício de piada no seu rosto.

- Você só pode 'tá' de brincadeira! Pedir a uma menina que eu nunca conversei na vida a ser minha namorada de mentira?

Dylan apenas concordou com a cabeça como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

Claro que conversar com ela sobre toda a minha mentira tinha passado pela minha cabeça, mas achei um absurdo todo esse negócio de pedir ajuda para uma garota que eu nunca conversei.

- Cara, eu tenho aula agora! Te vejo amanhã? – Dylan disse, já indo embora.

Eu concordei com a cabeça ainda pensando sobre o que ele tinha dito e fechei a porta.

O dia estava quase acabando então eu não tinha mais nenhuma aula. Fiquei o final da tarde e a noite inteira no meu apartamento, pensando em como eu pediria para uma desconhecida fingir ser minha namorada.

Talvez ela aceitaria, afinal, íamos apenas fingir, certo?

O jogo do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora