Capítulo 1 - Juliana Rodrigues

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Eu não sei como falar sobre esse ano. Foi tão intenso. Na verdade, eu não tinha expectativa nenhuma sobre esse ano. Uma cidade nova, uma casa nova, um quarto novo, colégio novo... Tudo de novo, como sempre é aqui na minha família. Meus pais são missionários de uma Igreja Batista e sempre viajam por várias cidades para pregar a palavra de Deus.

Meu pai está a um passo de ser um grande missionário e abrir uma Igreja, minha mãe estará ao seu lado como pastora, e esse ano viemos para o Rio de Janeiro, uma cidade praiana e portuária.

Antes de virmos pra cá, morávamos em uma cidadezinha que fazia divisa com Minas Gerais, uma cidade mais calma do que o Rio de Janeiro. Minha mãe ficou com medo de que eu, minha irmã Karen e meu irmão Caio nos encantarmos com coisas de fora da Igreja, como dança, música e festas. Isso era proibido em casa. Mas, eu não fiquei encantada por nenhuma música, dança ou filme, mas sim por ela. Fiquei apaixonada pela capitã e líder de torcida do meu colégio logo no meu primeiro dia de aula. Fiquei encantada pela beleza dela, mas apavorada pelos meus sentimentos, mesmo nunca tendo sentido nada daquilo por ninguém e principalmente por uma menina. Bom, acho melhor a gente voltar para esse dia e vocês vão entender:

Era 06:05 quando meu irmão mais novo Caio me acordou pulando na minha cama gritando:

Caio – Acorda! Acorda! Acorda, Ju!! Vai se atrasar!

Eu não estava nem um pouco afim de ir pro colégio, um novo colégio, conhecer novos amigos, não que eu tenha vários amigos, mas queria estar na cama e debaixo do edredom, mas ele insistia.

Caio - Vamos! A mamãe fez seu misto quente e vitamina de morango só pra você!

O misto quente me convenceu. Eu sentei na cama e era 6:09, olhei para janela e vi que o dia já estava clareando e não tinha nenhuma nuvem no céu. Decidi levantar e tomar um banho rápido, pois a aula começava as 7:15 e não queria ser a atrasada logo no primeiro dia.

Após o delicioso café da manhã, meu pai decidiu me levar de carro no colégio, dizendo que queria passar numa loja de ferramentas depois, mas conhecendo ele sabia que queria olhar os tipos de pessoas que eu ia conviver durante o ano.

Paulo – Filha, antes de ir... Tome isso – entrega um spray de pimenta.

Juliana – O que é isso, pai? – curiosa

Paulo – Ah, filha... É apenas precaução, sabe. Mas, você não vai precisar disso não. –  um olhar de pai protetor.

Meu pai era superprotetor, se ele pudesse ficar na sala de aula comigo, ele ficaria. Eu entendo os pais, mas às vezes eles precisam de calma. Quando ele partiu com o carro, meu estômago embrulhou, estava sozinha e segurando o spray de pimenta na mão. Eu queria jogar o spray de pimenta em todo mundo. Sabe, retiro que os pais precisam de calma, eu que preciso de calma. Meu pai foi embora e fiquei olhando para o gigante Teixeira Amorim. Bom, eu guardei o spray de pimenta e entrei no colégio. Tinha tanta gente, muita gente mesmo. Eu passava despercebida naquela multidão de jovens descolados com roupas de grife e eu apenas com meu vestido verde-limão da Leader. Quem vai de verde-limão para o colégio?

Quando me situei onde estava, vi uma moça no meio do corredor gritando os números das salas e vários alunos perguntando quais eram suas salas e turmas, fui lá saber a minha:

Janete – Turma 1002! Sala 4! Sala 1003! Turma 5! Não! É ao contrário! Vocês me confundem!

Mariana – Janete, você é sempre assim, né?! Se enrola toda!

Janete – Mariana, você já quer ganhar uma advertência no primeiro dia!?

Mariana – Eu não! Mas, só tô falando a verdade!

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