Esvaziamento

6 0 0
                                    

Primeiro esvazio-me, depois começo o dia. Mas aqui tem um problema. Por vezes esvazio-me no fim do dia e daí o caos já tá instalado. 

As palavras que não foram parar no papel, saem pela boca, pelos olhos, pelos gestos e pelos poros. Acredito que um cão bem treinado é capaz de detectar as altas doses de cortisol e adrenalina que me circundam o corpo. 

Tudo e todos padecem pela minha falta de esvaziamento. Incompreendido, silencio-me diante dos feedbacks ásperos que recebo e pela falta de senso de nocividade. Não percebo que estou fazendo mal aos que amo. 

Eles me sinalizam e eu cheio, promovo uma verborragia cruenta. Quando me dou conta, já vomitei palavras austeras cheias de sentimentos que cabe o papel receber e não as pessoas do meu convívio. Mas já foi. Já sentiram. Sinto depois que me dou conta. Já é tarde demais. 

Não quero magoar, mas magoo. Não quero ferir, mas firo. Rancoroso e triste o faço, percebendo que continuo sendo melhor compreendido pelo papel que pelas pessoas. 

Tenho Sede dos NadasOnde histórias criam vida. Descubra agora