Soraya
Um. Dois. Três tiros. Todos eles acertam próximos ao centro do alvo, a pelo menos 10 metros de mim, com precisão quase exata. A Glock automática esquenta em minhas mãos e já posso sentir o suor se acumulando em minhas palmas, mesmo que o ar condicionado em minhas costas faça todos os pelos do meu corpo se arrepiarem de frio. É bom saber que mesmo depois de todos esses anos eu não perdi a prática.
Os abafadores de ruído escorregam em meus cabelos e tenho que ajustá-los de poucos em poucos minutos, até que desisto e os deixo descansar em meu pescoço. Não é como se eu já não estivesse acostumada com os estrondos que repercutiam pelo ambiente a cada vez que um gatilho é acionado.
No Rio de Janeiro eu tinha as praias, que só com a brisa da maresia pareciam capazes de acalentar minha alma e diminuir o estresse de maneira quase imediata. Aqui no Mato Grosso do Sul, com a areia branca há tantos quilômetros de distância a ponto de parecer quase uma fantasia criada por mim, eu não tenho a opção de tomar um banho de mar para aliviar a tensão.
Em Campo Grande eu tenho clubes de tiro.
A adrenalina correndo em meu sangue após cada disparo em um desses estandes é o suficiente para esvaziar minha cabeça por pelo menos alguns minutos, e é uma ótima alternativa para a solução do meu problema. E que problema. Cobiçar uma mulher casada não é um dos pecados que eu previra que entraria em minha lista, que já está abarrotada mais que o suficiente, mas Simone estava tornando isso difícil. Quase impossível.
A maneira que ela havia entrado na sala de aula, hoje mais cedo, com aquela saia midi preta tão colada ao seu corpo que era possível ver o formato exato de sua bunda sob o tecido e que me fazia reviver em loop a cena de deixar uma mordida ali, foi o suficiente para me fazer ter certeza que esse seria um longo semestre. A primeira semana já havia sido longa o suficiente para me deixar à beira de um abismo de repressão sexual.
O fato dela ser a mulher mais atraente dentro daquela faculdade, não parecia passar despercebido por boa parte de meus colegas de sala, que pareciam sequer piscar enquanto olhavam em sua direção. E isso porque eles não tinham noção do quanto ela era ainda mais bonita de perto, sem todas aquelas roupas e também não faziam ideia de quão sensuais eram seus gemidos.
Porra.
Três. Quatro tiros. Esses erram o alvo por alguns centímetros, o barulho ecoa em meus ouvidos agora desprotegidos. A jaqueta de couro limita os movimentos dos meus braços, tornando quase um incômodo mirar de forma satisfatória com ela envolvendo meu corpo. Definitivamente não estou com roupas apropriadas para manejar uma arma, ao contrário do que os filmes de ação costumam dizer. Não tinha pretensão de acabar aqui hoje, então fazer uma escolha de roupas apropriadas não tinha sequer passado pela minha cabeça.
A semana também foi longa o bastante para me fazer voltar aos antigos hábitos, sequer notei que no meio da minha confusão mental havia feito todo o caminho até o clube de tiro há alguns quilômetros da cidade. Passei todo o final do meu ensino médio e grande parte da minha faculdade de administração vindo aqui sempre que tinha algum problema, descontava toda a minha frustração nos alvos de papel e pelo que parece o hábito ficou gravado fundo em meu subconsciente.
Meus braços começam a ficar pesados com o cansaço, já estou há pelo menos meia hora com eles de pé, sustentando a arma prateada e mesmo assim minha cabeça continua rodando as cenas de todas as vezes que Simone havia olhado em minha direção durante a aula. Sempre por alguns segundos a mais do que ela olhava para qualquer outro de meus colegas.
Repouso a arma na pequena bancada de metal do meu estande e aproveito para arrumar meu cabelo que começa a se desprender do rabo improvisado, só então reparo melhor no homem que atira da bancada ao meu lado.
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Requisitos para um diploma - Simoraya
FanfictionSoraya Thronicke achou que nunca mais veria Simone Tebet depois do final de semana em que passaram dormindo juntas, rodeadas por todas suas coisas encaixotadas para a mudança, no seu antigo apartamento. Por isso fez de tudo para gravar na memória to...