Requisitos para um diploma - Simoraya

Capítulo 9 - Horas extras

Simone

Alguns dias pareciam ter sido feitos única e exclusivamente para testar até onde iria minha paciência. Eram como um amontoado de problemas, todos sendo jogados em mim mais rápido do que eu poderia sonhar em ser capaz de resolvê-los. Ainda assim, eu sempre dava um jeito. Conciliar e convencer sempre foram meus pontos fortes e a partir deles eu conseguia me desvencilhar de situações que para alguns pareciam até mesmo impossíveis, mas algumas questões fugiam até mesmo da minha alçada. Apesar de eu passar grande parte da minha vida fingindo que eu sempre tinha tudo sobre o controle.

O relógio digital na tela de bloqueio do meu celular acusa que já se passam das dez horas da noite, em menos de algumas horas estaremos na madrugada de sábado e eu ainda estava muito longe de resolver a grande granada que havia caído em meu colo, sem avisos, no dia de hoje.

O cansaço potencializado pelo estresse e pela minha noite mal dormida, faz meus olhos pesarem. Meu organismo implora por uma boa noite de sono, mas sei que esse é só um sonho distante. Suspiro e tomo mais alguns goles do meu café preto, o gosto amargo assenta em minha língua e torço para que mais algumas xícaras sejam o suficiente para me manter algumas boas horas acordada.

Eu estava tentando resolver tudo sem auxílio, mas nesse ponto até eu tenho que admitir, mesmo a contragosto, que seria impossível. Se quisesse ter qualquer chance de vencer esse caso, depois da quase fuga do cliente para fora do Brasil, vou precisar de ajuda. De muita. Massageio minha nuca em movimentos circulares com as pontas dos dedos, tentando aliviar a tensão na área, em vão, meus músculos estão muito mais tensos do que uma simples automassagem seria capaz de resolver.

No momento, nem mesmo uma cartela inteira de relaxante muscular me parece ser o suficiente para resolver a situação.

Esse era um dos motivos que eu escolhia muito bem meus clientes, não aceitando defender ninguém que eu suspeitasse ser realmente culpado. Eduardo não seguia os mesmos princípios e com ele fora, passando grande parte dos seus casos para que eu pudesse fazer a defesa, aqui estou eu nessa situação. Defendendo um possível corrupto que quase arruinara a empresa da própria família e que havia sido pego tentando sair com quase 200 mil dólares pela fronteira do país.

Para fechar a caixa de problemas que haviam colocado em minha porta, meus dois estagiários estavam indisponíveis para voltar ao escritório. O telefone de Marcelly caia direto na caixa postal em todas as tentativas e Christian não atendia nenhuma de minhas chamadas.

Descanso meus olhos e me encosto na cadeira acolchoada, cansada da luz da tela que irrita minha visão, minha cabeça lateja de forma incômoda por passar tanto tempo no computador. Eu realmente não deveria ter aceitado dar continuidade aos casos que deveriam ser responsabilidade de Eduardo, desde o começo eu já suspeitava que seria uma dor de cabeça maior do que a que estou disposta a passar.

Olho mais uma vez para o celular, eu havia perdido pelo menos meia hora, contemplando o silêncio do escritório e perdida em pensamentos, tentando me conformar que teria que ligar para Soraya Thronicke. Procurando qualquer outra forma de resolver a situação sem tomar a decisão óbvia que era pedir sua ajuda. Ainda sem aceitar que eu teria que chamá-la de volta e passar as próximas horas trancada sozinha com ela nessa sala, se eu realmente quisesse resolver esse problema.

Já havia sido tão difícil não tocá-la durante a semana, principalmente quando ela me encarava com aqueles olhos felinos ou se inclinava sobre a minha mesa para me passar alguma informação, me dando uma visão privilegiada do seu decote.

Eu quase havia cedido mais vezes do que tenho orgulho em afirmar, mas ninguém podia dizer que eu não estava tentando com todas as minhas forças a ficar longe da sua pele dourada e de seus cabelos loiros com cheiro de baunilha. Entretanto, às vezes, a maneira que ela me fitava, como se me desafiasse e quisesse que eu fizesse algo, era simplesmente demais para mim e me deixava a ponto de perder a cabeça.