Capítulo 15 - Não é justo

1.9K 221 479
                                    

Soraya

Existem alguns momentos no decorrer da vida que te fazem repensar todas as decisões que tomou pelo caminho e te fizeram chegar ali. Revisando um a um, cada pequeno detalhe que resultaria naquela situação que quase faz seu coração sair pela boca, suas mãos tremerem e o calor dominar o seu corpo a ponto de suas palmas suarem mesmo no frio.

Dessa vez sequer é difícil dizer qual foi o exato instante que me trouxe aqui. Se eu pudesse ver um filme de toda minha vida, eu não teria problemas em dar pause no frame que iniciou toda essa confusão. Poderia até mesmo mapear cada uma das interações que me trouxe onde estou, com comentários tal como eu um reality show sensacionalista. Rindo da minha própria estupidez.

Acredito que nunca vou esquecer daquele sexta-feira no Leblon, quando me virei em sua direção e ela me olhava com aquele sorriso aberto no rosto. A pele avermelhada pelo sol, os cabelos negros como a noite emoldurando seu rosto com perfeição calculada e seu olhar que parecia despir com desejo cada uma das minhas peças de roupa.

Como se ela quisesse decorar cada pedaço do meu corpo com sua boca.

Minto.

Como se já estivesse em seus planos passar seus lábios em cada canto da minha pele.

Conhecer Simone foi o começo do fim. O gatilho inicial que me trouxe para cá protagonizando uma cena romântica com uma mulher casada, enquanto o seu marido bate na porta da frente. Feliz por estar de volta em casa.

A colher parece cair da sua mão em câmera lenta, como se pudesse entender a pesada tensão que surgiu no espaço como em uma explosão, intensa e repentinamente. Apesar de ter deixado o talher escorregar, ela afrouxa com delicadeza minhas mãos que agarram suas roupas e se vira para mim, ainda segurando meus dedos. Seu rosto sereno, como se ela não tivesse preocupações nesse mundo.

Ela poderia ter me enganado com sua calma ordenada se eu não tivesse sentido sua coluna se tensionar contra meu peito, como um brinquedo de corda em seu limite, assim que as primeiras batidas ecoaram. O colher agora caída na pia de mármore comprovando por vez que sua calma não passa de uma atuação.

— Respire. Está tudo bem. — ela me diz apertando meus dedos de leve entre suas palmas. Só então percebo que minha respiração cessou, o ar preso em meus pulmões como se respirar pudesse denunciar tudo que está acontecendo entre nós duas.

Cada toque.

Cada beijo.

Todas as vezes que implorei para ela me fazer gozar. Às vezes ainda sentindo o frio do metal em sua aliança quando ela marcava o formato de sua mão em meu corpo.

Todas as vezes que o frio do pequeno anel me deixava ainda mais excitada.

— Vou pegar suas roupas. — Ela continua, ainda encenando sua calma ensaiada. Se portando com a mesma autoridade que emana quando estava em sala de aula, apesar de suas palavras saírem apressadas. — Vista e espere aqui enquanto eu atendo a porta. Qualquer coisa apenas confirme que estávamos acertando os últimos detalhes do caso do Castro e siga a história.

Ela demora segundos para recolher as peças de roupas esquecidas amontoadas no tapete aveludado da sala e voltar à cozinha. Se movimentando com a mesma velocidade que meu coração salta em meu peito, quase como se eles tivessem apostando uma corrida.

— Não acho que seja uma boa ideia eu vestir seu blazer. — Forço as palavras a saírem assim que ela me entrega as roupas, minha voz sai rouca delatando o quão seca minha garganta está. Meus dedos tremem enquanto tento fechar o zíper da saia. — E você precisa trocar de roupa. Coloque ele.

Requisitos para um diploma - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora