Requisitos para um diploma - Simoraya

Capítulo 19 - Não sei o que estamos fazendo

Soraya

Ainda estou entorpecida pelo sono, desconexa da realidade, quando minha mão corre pelo lençol macio da cama. A busca infrutífera e despropositada pela morena no espaço vazio serve ao menos para me fazer acordar por completo. Mais uma vez Simone domina os primeiros pensamentos do meu dia. Ou melhor, sua ausência domina. Havia me virado rotina amanhecer em seus braços e agora acordar sozinha, nessa cama muito maior que o necessário, faz um vazio crescer no centro do meu peito. O dia já começa parecendo errado, como se estivesse marcado para o desastre.

Já se passaram dois dias desde que ela saiu apressada do meu banheiro, me deixando apenas com uma promessa e com o trabalho de juntar todos meus pedaços. Nesse meio tempo não tive notícias dela, sequer uma mensagem rápida e muito menos uma ligação. As mensagens que mandei também seguem sem resposta, apesar de terem sido entregues. Minha insegurança e minha irritação dançam uma elaborada coreografia a dois em meu interior, as duas buscando o controle das minhas emoções.

Em vão, os ciúmes parecem não ter pretensão de ceder essa posição.

Em alguns momentos eu quase consigo me convencer que a última semana não passou de uma fantasia vivida criada por mim mesma, então eu vejo peças de suas roupas misturadas as minhas e sua caneca favorita guardada em meu armário e sei que foi real. Isso não me alivia. Saber que ela é dele enquanto eu queria que não fosse de ninguém mais além de minha, faz os ciúmes percorrer todo meu corpo como uma descarga elétrica e é impossível esquecer que enquanto estou aqui, buscando seu corpo com meus dedos, é com ele que ela está dormindo.

Meu corpo inteiro dói por causa da posição em que dormi, como se eu tivesse esquecido como adormecer de maneira confortável quando estou sozinha. Bocejo, ainda imersa no sono. É quase uma tortura ter que levantar da cama tão cedo após ter ficado até de madrugada com Pedro, terminando o trabalho passado por Simone. Ainda sim me forço a levantar, ao menos hoje eu teria alguma noticia vindo dela e por fim essa ansiedade que me engole amenizaria.

Mesmo que as noticias fossem ruins, mesmo que ela tivesse percebido que a melhor coisa a fazer é acabar com o que quer que seja que tenhamos, ao menos eu teria um ponto final em cima do que eu pudesse trabalhar.

Falta pouco menos de uma hora para o início das aulas quando chego na faculdade. Um único carro acompanha o meu no estacionamento vazio tão cedo na manhã, ao mesmo tempo o Jeep Renegade preto parado do outro lado do extenso pátio, é o único automóvel que poderia me causar esse tipo de reação emocional. O carro de Simone. Meus dedos tremem e meu estômago parece afundar. Quem eu quero enganar com aquele papo de querer um ponto final? Apenas a ideia de não poder mais tocar naqueles cabelos escuros é o suficiente para fazer meu coração doer e sei que não estou preparada para o fim. Não ainda.

Procuro o maço de cigarro que sempre deixo guardado no porta luvas, está há tanto tempo ali, sem uso, que a caixa está em uma situação deplorável e quase desmancha em minhas mãos. Nunca fui de fumar mas as vezes, em momentos pontuais, acabava recorrendo a nicotina para amenizar a ansiedade que parecia estar no meu controle. Depois de cultivar minhas inseguranças por todo o final de semana, já estou em meu limite.

Me apoio na lateral do meu carro, de frente para as árvores que cercam o campos, ficando escondida atrás do veículo. O isqueiro rosa falha várias vezes até que por fim consigo acender meu cigarro, a primeira tragada já é responsável por relaxar rodos os meus músculos. Me pego franzindo o nariz por causa do gosto terrível que gruda na minha língua. No final tudo tem um preço.

Sinto seu cheiro na brisa antes mesmo de a ver ou ouvir sua voz. Ela está usando aquela maldita saia midi que marca cada uma de suas curvas de forma quase obscena e que ela havia se recusado a vestir para mim quando pedi, alegando que usaria algum dia de surpresa apenas para ver minha reação.