Capítulo 18 - Eu amo o Eduardo

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Simone

...Oito. Nove. Dez.

Conto até dez pela quarta vez desde que estacionei o carro na garagem de casa. Respirando fundo em cada número da sequência, buscando uma calma que nunca me faltou antes por causa de um simples reencontro com meu próprio marido. A lembrança de Soraya naquela banheira pequena, tentando esconder a dor que era evidente em sua expressão, é um filme que roda em loop no teatro das minhas memórias, como se eu estivesse presa em meu inferno particular.

Tudo que eu mais quero é voltar até lá e acabar com os motivos para que ela tenha me olhado daquele jeito, como se eu fosse a responsável por esmagar seu coração com minhas próprias mãos e ainda assim ela quisesse me eximir de qualquer tipo de culpa. Querendo carregar sozinha um fardo que estava longe de ser só seu. Aperto o volante com força até os nós dos meus dedos se tornarem esbranquiçados e cerro minhas pálpebras, tentando clarear meus pensamentos.

Me lembro mais uma vez o porquê de eu não poder jogar tudo para o alto e voltar para o seu lado. A racionalização não chega sequer perto de extinguir os sentimentos que pesam em meu peito. Saber o porquê não devemos fazer algo não acaba com nosso instinto de querer e nesse ponto da minha vida, eu quero Soraya. Eu a quero acima de qualquer pensamento racional. A quero feliz sorrindo em meus braços, contando histórias bobas e acordando comigo dia após dia, mesmo sabendo que nunca poderei tê-la. Ao menos não de verdade.

Relações não funcionam quando apenas uma parte se doa. E mesmo que eu queira dar cada um dos meus pedaços a ela, tenho cordas que me amarram e tornam impossível que eu seja dela tanto como eu quero que ela seja minha.

Todas as luzes do andar de baixo da casa estão apagadas, a luz vinda do lado direito do corredor no andar de cima é a única iluminação presente em todo ambiente. Meus olhos se acostumam aos poucos com a penumbra, a visão do sofá que toma a sala é gatilho para toda mais uma rodada de lembranças com a loira de olhos castanhos. Ela retirando a roupa para mim com malicia, ela envolvendo seus braços ao meu redor, sua voz ressoando melódica em meu ouvido. O quanto parecia certo ela ali, dormindo comigo em meu sofá.

Levo minhas mãos ao meu rosto, finalizando o movimento com uma massagem nas têmporas que não é o suficiente para amenizar o latejar incomodo que começo a sentir. Faço um grande esforço para tirá-la dos meus pensamentos e focar em qualquer outra coisa enquanto subo as escadas. Afundo minhas unhas nas palmas das minhas mãos, a dor ao menos era uma ótima distração.

Eduardo está dentro do closet, de costas para a porta do quarto. Apoio meu ombro na porta observando enquanto ele guarda a mala em uma das prateleiras de cima, ainda sem notar minha presença mesmo que meus saltos tenham feito seu habitual barulho em meu caminho até aqui. Um sorriso toma seu rosto assim que ele se vira em minha direção, os olhos ficando miúdos com o movimento dos seus lábios.

— Estava morrendo de saudades, meu bem. — Ele se aproxima, deixando um beijo em minha testa antes de me abraçar.

Tudo parece errado. Desde sua altura, alguns centímetros mais alto que eu, até a textura da sua barba contra minha pele e a maneira como nosso abraço não parece se encaixar. Quase como se tentássemos forçar duas peças de um quebra cabeça que não foram feitas para estarem juntas.

Eu havia passado muito tempo esperando que algum dia essas peças se encaixassem, como um passe de mágica que resolveria meus problemas. Mesmo que no fundo, apesar de todo meu esforço para me convencer do contrário, eu soubesse que isso nunca aconteceria de verdade com Eduardo. Nem com homem algum.

— Como foi a viagem? Vi alguns vídeos seus durante as ações no Instagram do partido, estava todo sério. Nem parecia o homem que na faculdade tentou comprar um corvo de estimação. — Brinco e ele ri. A risada tão familiar e ainda assim não a risada certa.

Requisitos para um diploma - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora