Capítulo 11 - Bola de neve

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Simone

Durante minha adolescência fui muito adepta a ideia de que a vida é uma só. Achava que só tínhamos uma oportunidade para fazer com que tudo valha a pena e deixar de aproveitá-la era como decretar a sua própria morte ainda em vida. Era escolher deixar de viver enquanto seu corpo continua respirando.

Sem dúvidas dramática é um dos adjetivos que me descreveria com exatidão naqueles tempos.

Por isso não consigo contar nos dedos as vezes em que acabei ultrapassando alguns limites. Principalmente quando eu estava na fase dos 20. Qualquer coisa pode parecer uma boa ideia quando você está disposto a se convencer que é, até mesmo os planos que com certeza foram projetados para serem péssimas decisões.

Se enganar é ainda mais fácil do que tentar enganar outra pessoa.

Eu ainda não sou muito boa em me negar, mas a maturidade chega para todos. A responsabilidade chega para todos. Nada como quebrar a cara algumas dúzias de vezes para te fazer repensar sobre algumas convicções. Eu cresci e aprendi a respeitar os limites, entendi a importância de se manter uma boa imagem pública e abdiquei de muito para conseguir conquistar meus objetivos.

Me tornei a boa filha de político que fui criada para ser. Sempre agindo por debaixo dos panos e sorrindo em frente ao público. Evitando o máximo o possível situações problema que pudessem afetar minha vida, mesmo que elas não gostassem muito de me evitar.

Até Soraya Thronicke.

Ela é como um sinal de aviso incessante de uma clara situação problema, que insiste em piscar diante dos meus olhos atraindo toda minha atenção. Um sinal de aviso que estava tendo o efeito completamente contrário do que deveria e me faz sentir como se eu estivesse de volta aos meus anos de universitária, em busca de me sentir viva mais uma vez. Revivendo os velhos padrões.

Quando seus lábios tocaram em meu pescoço durante o sábado, fazendo meu corpo se incendiar como se cada átomo que o compõe estivessem entrando em combustão simultaneamente, eu soube que estava perdida. Já envolvida demais nessa confusão para poder voltar atrás.

Então me prometi que manteria as coisas o mais descomplicadas o possível, se é que isso existe dentro da situação em que estamos. Se eu não podia evitar por completo, o mínimo que poderia fazer era tomar o máximo de cuidado o possível para que tudo não virasse uma bola de neve. Sem vínculos emocionais. Apenas sexo. Até que as duas conseguirem superar essa atração que sempre deixa o ar tão pesado, a ponto de parecer que ele poderia ser cortado com uma faca, quando estamos juntas em uma mesma sala.

Ainda assim aceitei subir para a sua casa quando fui deixá-la na noite de sábado assim que acabamos a defesa. Ainda assim acabei dormindo em sua cama com meus braços envolvendo seu corpo nu, meu rosto perdido em meio aos fios loiros com cheiro de baunilha. Ainda assim eu havia concordado quando ela me fitou com seus lindos olhos castanhos e me pediu para ficar em sua casa no domingo.

Até o mínimo que eu deveria fazer parecia algo impossível, quando a pauta é ficar longe de Soraya.

O “não” parece deixar de existir no meu vocabulário quando o assunto é ela.

Eu decidi manter um distanciamento emocional e na primeira oportunidade não pensei nem por um instante antes de atropelar minha própria decisão. Com a ânsia de uma criança após ganhar um presente que tanto esperava em uma noite de natal.

Eu a contei histórias da minha época de faculdade e a tinha ouvido contar, enquanto estava sentada em meu colo, sobre como tinha sido morar tanto tempo no Rio. Descobri que a cor favorita dela mudava todos os dias. No domingo sua cor favorita foi o azul. O azul exato da cor da minha lingerie que estava jogada em algum canto da sua casa, ela explicou com um sorriso banhado na mais pura provocação.

Requisitos para um diploma - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora