Capítulo 12 - Reunião de família

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Soraya

Arrasto o pingente em formato de disco pela extensão do meu colar de corrente dourada, levando para um lado e para o outro. O atrito entre os metais criando um zumbido constante que chega aos meus ouvidos como um som relaxante. Para um lado e para o outro, levo o pingente mais uma vez. O movimento já me virou um hábito sempre que ansiedade fazia meu peito se comprimir como se eu estivesse carregando um enorme peso sobre ele.

Para um lado e para o outro. Respiro fundo, mantendo o ar alguns segundos no pulmão antes de liberá-lo com uma longa lufada, na tentativa de me acalmar o suficiente antes de encarar minha mãe cara a cara. Passar o último mês protelando para começar a aceitar e me preparar para esse encontro, agora se mostra uma péssima ideia. 

A Soraya de segunda feira apenas quer que esse seja um problema para a Soraya de daqui há uma década.

A casa em que cresci continua do exato jeito que recordo nas minhas memórias de adolescente. A hera verde cresce na parede de pedra da fachada e as portas duplas da entrada parecem terem acabado de ser instaladas, a madeira lisa e sem imperfeições da maneira que só se é vista em lojas. Apesar disso, elas já estavam ali há pelo menos 15 anos. 

Essa entrada havia sido cenário de muitos momentos marcantes durante minha vida, desde meu primeiro beijo quando minha namorada da época me apoiou ali enquanto nossos lábios se tocavam até minha primeira briga com Paulo César e a saída do meu pai de casa, em meio aos gritos irados de minha mãe.

Eu finalmente tinha me livrado da sensação de déjà-vu que estava me perseguindo por todos os cantos de campo grande nas minhas primeiras semanas na cidade, me adequando mais uma vez à rotina no centro-oeste. Estar aqui, porém, faz com que tudo isso volte com intensidade atordoante. É quase como estar tentando entrar em uma peça de roupa que não cabe mais em mim.

Pelo menos ter que lidar com esse problema vai me fazer tirar da cabeça o buraco em que me enfiei e que estou cavando mais fundo a cada dia que passa. 

Sentir ciúmes de uma pessoa que já é casada, é não comigo, é o maior indicativo possível de que estou cometendo uma estupidez. Ainda assim, foi impossível controlar meus próprios sentimentos hoje mais cedo. O desconforto ao descobrir que a loira que Simone estava abraçando era ninguém menos que a Janja, logo a mulher dos boatos, havia sido real. 

Me iludir fingindo que a onda de irritação que me varreu quando as duas se abraçaram com tanta intimidade não era ciúmes, não vai resolver o meu problema. 

Eu estou morrendo de ciúmes e isso me deixa apavorada. 

Balanço a cabeça tentando me livrar dos pensamentos, ultimamente parecia que eles andavam em círculos dentro da minha cabeça. Uma espiral contínua que sempre me levava a pensar em Simone, não importa qual tópico fosse o assunto. Como se eu já não tivesse problemas o suficientes na minha vida sem me envolver romanticamente com minha professora e chefe.

Tenho menos de duas horas antes do início do meu expediente no escritório e preciso me adiantar se quiser cumprir meus horários. Chega de enrolação. Largo o pingente do colar e entro na casa, mesmo que essa seja a última coisa que eu queira fazer no dia de hoje.

O  barulho dos meus passos ecoando pelo corredor largo da entrada são o suficiente para fazer com que minha mãe apareça no final do corredor. Ela sempre sabia quando alguém entrava em casa, não importando em qual cômodo ela estivesse ou as horas do dia. Isso havia sido um verdadeiro pé no saco durante minha adolescência e até hoje eu tinha uma cicatriz logo abaixo do joelho de uma das vezes que tentei fugir a noite, pulando a janela do meu quarto.

— Filha! Que saudades! — Ela desfila pelo corredor vindo em minha direção com os braços abertos para um abraço.

Seus cabelos estão cortados na altura do queixo, no exato tom de castanho médio dos meus fios naturais. Ainda veste roupas de frio que não condizem com a temperatura do mato grosso durante o verão, mas que me parecem adequadas para Nova Iorque no inverno. Seus braços me envolvem, o cheiro de chanel exalando dela a cada movimento.

Requisitos para um diploma - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora