Capítulo 1: NA ESTRADA

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1. NA ESTRADA


- Por favor, não, não, não!

E assim eu abri meus olhos, após ouvir muitos gritos e vozes chamando. Não vi rostos. De quem eram aquelas vozes? Eu não sei dizer. Apenas sei que a mais próxima era de um homem. Não soava como a voz de um velho, mas alguém da minha idade, ou próximo a isso. Jovem.

Não sei se dormi. Não sei se desmaiei. Não sei se fui assaltada, sequestrada, ou se... sei lá. O fato é que tudo está confuso em minha cabeça. Eu nem lembro onde estava ou como vim parar aqui, nesta estrada deserta cercada por mato e árvores.

Era dia. Olhando ao meu redor por alguns instantes, nem gente e nem carros... Não há ninguém por perto, nenhum sinal de qualquer viva alma que possa me explicar COMO eu vim parar neste lugar - embora me sinta livre cercada pela natureza viva - verde e fresca. O cheiro de folhas é forte, marcante e inexplicavelmente maravilhoso. Tudo é paradoxalmente novo e famíliar... por isso não devo estar com medo. As circunstâncias, pelo menos, não parecem assustadoras. Só bizarras. Eu devo morar por aqui.

Levantei, e minha cabeça começou a doer. Percebi que não havia chegado aqui há muito tempo. Meu cabelo não está tão sujo, nem minhas roupas. Talvez eu caí ou fui atropelada, pronto. Justificaria o pouco de sangue na camisa. O importante é que nada doía, não havia ambulância, então pensei, ironicamente, "bom, nada está quebrado". Comecei a andar pela estrada, descansada e despreocupada. Vai ver eu dormi, pois realmente estava bem disposta. Quando passasse alguém, eu iria pedir ajuda... pois com o tombo (na minha lista de hipóteses isso também pode ter acontecido), minha memória tinha literalmente apagado.

Ao andar, reparei no meu próprio corpo, buscando evidências que pudessem revelar minha identidade. Comecei analisando minhas mãos: pequenas, finas, brancas como o resto da pele. Tinha vários sinais pelos braços, deviam ser sardas. Não usava joias, apenas um escapulário, sem muitos detalhes. Minhas unhas não estavam pintadas. Passei os dedos nos meus lábios, que estavam um pouco ressecados, talvez do frio, mas não acho que estava usando batom ou qualquer tipo de maquiagem. Pelo menos não saiu nada em minhas mãos quando esfreguei meu rosto. Os cabelos, um pouco bagunçados, acredito, eram lisos, compridos e castanhos. Usava uma camisa xadrez azul larga por cima de uma camiseta branca, um jeans surrado e um par de tênis comum.

Andei por horas tentando decifrar quem eu era, com base nestas pistas. Não cheguei a nenhuma conclusão. Acho que agora eu deveria surtar... mas preferi manter a calma. Afinal, de algum jeito eu fui parar ali, e alguém deveria aparecer, mais cedo ou mais tarde. Impossível a civilização inteira ter sumido enquanto eu estava desacordada!

Vi uma macieira, e parei. Me aproximei, dei um pulo, e agarrei a fruta que estava mais baixa. Era vermelha como sangue, e grande. Parecia de mentira. Sentei encostada num tronco de árvore, perto da estrada. Toda jogada, pensando, enquanto olhava a maçã. Olhei ao meu redor. A estrada não era nova, também não era antiga. Não havia sinal de freada nem de acidentes. Não adianta... eu não tinha nem ideia de que lugar era aquele, mas era belo...e fazia frio. Na verdade, olhando agora, parecia mais uma pintura, uma obra de arte dessas que, quando vemos, nos perdemos na vivacidade das cores. O silêncio era profundo... só ouvia algumas cigarras e pássaros, bem de longe, e o som do vento batendo nas árvores. Uma borboleta pousou na minha perna, eu a peguei, delicadamente, com um dedo. Ela era vermelha e branca. Levantei meu dedo contra a claridade e suas cores contrastavam lindamente com o verde e cinza daquele céu nublado.

Descansei mais um pouco e levantei, não queria perder tempo e tinha que achar alguém antes de escurecer.

Mal sabia eu...

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