Capítulo 2: OLHOS HIPNOTIZANTES EM YELLOW WOODS

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2. OLHOS HIPNOTIZANTES EM YELLOW WOODS


O cansaço definitivamente me consumiu. Não consegui sonhar, e muito menos sentir o tempo passar. Dormi o sono dos "deuses do Rock", como ele diria. Uma pedra. Figura ainda pálida e cansada, olhos roxos e fundos de cansaço e, ainda assim, passei horas em estado de hibernação.

Diferente dos dias anteriores, eu acordei em paz, calma, e com o raio do sol da manhã entrando pela janela da cozinha - se é que posso chamar assim aquele espaço - que vinha exatamente na direção dos meus olhos naquela hora. Já não estava mais com tanto frio e meu corpo estava levemente suado pelo calor daquela manhã, tão manhosa. Meus cabelos, céus... provavelmente devem parecer uma juba. O lençol estava todo revirado, e não mais me cobrindo.

Abri os olhos aos poucos. Já lúcida, soube onde estava após alguns segundos de estranhamento típico de quando mudamos de um ambiente e dormimos em um lugar diferente. Quis me virar para o lado oposto, mas senti uma dor na minha ferida na cintura e travei o movimento.

Quando percebi, Edward estava de prontidão sentado na entrada da cabana - pois aquilo não tinha porta decente, claro - encostado em um lado do portal e com a perna cruzada no joelho, o pé apoiado no lado oposto, com um livro na mão e olhando, com aqueles mesmos olhos misteriosos que encontrei pela primeira vez há alguns dias, para mim. Espreguicei-me um pouco na cama, e o fitei naquela posição. Ao lado de fora, agora eu podia ver, havia um riacho, lago, ou algo assim, com água limpa e grama muito verde até a cabana. Parecia uma pequena praia particular, a qual eu não havia notado por estar na nebulosidade daqueles dias anteriores.

- O que você está fazendo? - perguntei, sem ter noção do horário.

- Estava lendo aqui, esperando você acordar. Como está se sentindo agora? - ele perguntava, racionalmente.

- Quase descansada, eu acho. - me mexi na cama e percebi que meu corpo todo doía, mal conseguia dobrar os braços, pernas e pescoço. - Só acho que acabo de perder os movimentos.

- Espera. - Ele esboçou um sorriso torto, fechou o livro, largou sobre a mesinha na entrada da cabana e veio rápido para perto da cama. Segurou minhas mãos e me ajudou a sentar, apoiando minhas costas. De repente, eu comecei a desconfiar que havia um toque de gentleman por trás daquele sarcasmo todo.

Por um momento, senti suas mãos nas minhas - fortes, grandes, seguras e cúmplices. Fiquei sem ter muito o que dizer, então simplesmente o olhei, com a cabeça de lado e meu olhar de peixe morto. Uma-bosta-de-cansada-mas-bem-melhor.

- Bom dia... - respondi, finalmente.

-Você parece um panda cansado. - ele riu, amistosamente.

-Obrigada, Edward. - passei as mãos nos olhos, tentando limpar a aparência e arrumar o cabelo, que com certeza estava feroz.

Ele não tirava os olhos de mim. Depois de me analisar em cada movimento, abriu suas mãos enormes e as colocou nas solas dos meus pés. Ele encostou devagar, mas acho que foi o suficiente para eu ficar arrepiada, e isso ficou mais do que claro.

-Por acaso está com frio, moça?

- Não, estou normal. - falei disfarçando e cruzando os braços na minha frente, como se bloqueassem minhas emoções para ele. Fiquei com vergonha e, tenho certeza, corei.

Edward começou a pegar nos meus pés, dobrando levemente as minhas pernas e estimulando minha articulação. Ah, se ele soubesse como eu fiquei desconsertada...

- Você é estranha - ele disse num tom que soou como desdém.

-Obrigada? - franzi a testa, e a curiosidade logo me tomou - Estranha como? - e fingi que não entendi que ele notava minhas reações espontâneas.

Memories (Truth or Dare?)Onde histórias criam vida. Descubra agora