Capítulo 11: DIFICULDADES

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11. DIFICULDADES


Covarde.

Eu a interrompi. Ela ia dizer. Ela, que há algumas semanas disse que não queria correr com as coisas, me surpreendeu. Isabella me amava.

Pela primeira vez.

Só um filho da puta iria interromper aquela declaração. E esse filho da puta era eu, é claro. O bastardo que nunca foi amado, que nunca soube amar, que agora tinha o ouro nas mãos, e que chutou sua joia rara para bem longe.

Sinceramente, não compreendia o que aconteceu. Mas isso eu precisava dizer cara a cara. Isso se ela me desse a oportunidade.

Se fosse menos babaca, teria permitido. Teria deixado ela me amar. Teria dito o que sinto por ela, também com todas as palavras. Mas não. Tanto estudo, Q.I. tão elevado, tanta pompa e um grande otário para lidar com sentimentos. Passei as últimas semanas batalhando com minha mente até me acostumar com a ideia do que eu sentia. Ela provavelmente não imaginava o quão difícil aquilo era pra mim. O idiota do doutor coração gelado não sabia mais reagir.

Eu estava congelado desde o momento em que ela ia falar. Já que o tempo não podia parar para eu digerir toda a situação, eu tentava pará-lo sozinho. Dois dias sem dormir. Dois dias sem me concentrar no trabalho. Dois dias ignorando o... bem mais precioso que eu tinha. Não porque a visse como um objeto ou qualquer coisa material, e sim porque ela era a encarnação do que me fazia bem. Isabella era única, e eu nunca me senti assim com uma pessoa antes. Não sei se ela poderia me entender. Mas aquilo tinha que parar. Ela era tão doce, tão meiga, tão humana... não merecia sofrer.

Quando o Dr. Masen me chamou na sala e perguntou o que havia de errado entre nós, tentei disfarçar, dizendo que não tínhamos nada. Mas quando ele pegou o livro de juramento de Medicina e aleatoriamente me fez jurar que nunca me envolvi com qualquer paciente, eu vacilei e sabia que ele já havia entendido tudo. Ele disse que estava tudo bem, e apenas queria entender melhor porque Isabella parecia preocupada e triste comigo, e que esperava que não tivesse problemas em contratá-la para nos ajudar na vila. Claro que não tinha. O único problema era aquele clima esquisito entre nós, que eu mesmo provoquei.

Depois entrei na enfermaria e ela estava ali, toda amável, cuidadosa e carinhosa com nosso pequeno paciente. Eu fiquei bobo de ver o jeito que ela levava para cuidar do menino e para lidar com a situação. Parecia que ia ficar tudo bem enquanto ela estava ali, sendo treinada para trabalhar.

Apenas aparência.

Decidi acabar com aquela escrotice toda em casa, porque não fazia sentido algum negar o seu sentimento quando estávamos namorando e tão bem um com o outro. Até nisso eu estava indo bem. Eu conseguia respeitá-la como nunca respeitei uma mulher antes. Eu não a tocava. Ela me deu um voto de confiança quando aceitou o namoro e eu não podia voltar atrás por tão pouco. Eu não podia ser tão fraco.

Não podia destruir o que começamos a construir juntos.

*

–Não! – Isabella gritou e me liberou dos pensamentos noturnos.

–Calma. – sentei ao seu lado e a abracei discretamente, massageando suas costas.

Podíamos estar em uma situação estranha, mas a amizade não podia ser abalada por tão pouco.

Ela respirava intensamente, com dificuldade. Não foi como da última vez, mas também foi complicado. Ela estava chorando, e eu acendi a luz para dar-lhe água.

–Estavam atrás de mim! Você tá aqui? – ela chorou, respirando fundo e nervosa.

– Estou aqui. Você estava dormindo.

Memories (Truth or Dare?)Onde histórias criam vida. Descubra agora