4. LÁBIOS DE MEL
Mais um dia raiava. Acordei e me certifiquei de que a hóspede estava deitada ainda. É claro que aquela pedra estava bem ali ao meu lado, estirada na minha cama, com os cabelos de novo no rosto. Era sempre gozado vê-la dormir. Bem, desde o segundo dia em que ela apareceu na minha vida. No primeiro, não foi nada engraçado, e sim assustador. Desta vez, parece que foi apenas um susto. Ela estava muito mais tranquila do que durante a noite, quando teve um pesadelo.
Nessas horas de silêncio, enquanto eu colocava os óculos de leitura para registrar tudo sobre o estado dela, eu viajava meditando e pensando na vida.
Antes, tudo era simplesmente um cotidiano masoquista. Se não fosse por seguir minhas escolhas paralelas às da família, eu não sei, sinceramente, se teria gás para ainda viver. Minha única esperança era ter a plena convicção de que eu, mesmo remotamente, ainda tinha a chance de ser livre, se tudo desse errado. Bastaria me formar e sair definitivamente de casa.
Agora, as coisas começaram a ficar diferentes.
O tempo parece fluir ridiculamente. Não me sinto mais sufocado. Talvez, a viagem longa e repentina dos meus velhos esteja fazendo bem a mim. Parecia que tudo tem um pouco mais de graça.
Minha vida faz mais sentido.
Arriscaria até a dizer que, nas últimas semanas, o futuro médico e advogado aqui era menos moleque e mais homem.
E, cada vez mais, as suspeitas de que a mudança chegou de forma inesperada aumentavam.
Era ela.
Não é possível que ela não tenha nada a ver com minha mudança de estado de espírito.
Antes, um quase alcoólatra, chapado e mal educado que eventualmente catava qualquer uma só para aliviar a tensão e aguentar a vida de bosta de estudantezinho-de-Direito-com-ambição-em-Medicina. Agora...
Um novo Edward.
Controlado, educado, calmo, companheiro e preocupado com a minha hóspede. E completamente fodido, sem saber sinceramente o que fazer ou dizer como tenho pensado nela.
Não é possível que eu esteja insano. Meu juízo sempre esteve aqui, está em perfeito lugar.
Em todo caso, manterei em mente que tudo ainda não passa de uma hipótese.
Talvez esteja somente maravilhado com a presença de uma jovem estranha na minha "casa". Ou realmente estou ficando louco.
É cedo para saber, e é melhor não ter pressa. Hora de acordar do daydreaming que aquela magrela sonolenta me provocou...
*
Fui à vila buscar nosso café da manhã e resolvi agradar minha hóspede com um pão doce. Tinha cara de quem adorava uma besteira.
Em si, a própria era um doce de pimenta.
Uma hora me xinga, a outra sorri. Estranha que só.
Voltei à cabana e nem reparei nela. Corri para deixar tudo no lugar antes de sair para o trabalho. Improvisei a mesa, troquei de roupa, dei um jeito no cabelo e já ia sair, quando a ouvi gemer. Ela dizia alguma coisa, de novo.
–Não... não! – gritou dormindo.
Se pela noite ela apenas falava, desta vez, parece que estava no pior de seus pesadelos. Sem pensar muito, tive o impulso de acordá-la.
– Ei, calma! Foi só um sonho ruim. – deixei minha bolsa e pasta na mesa e sentei perto dela, na ponta da cama.
– E-eu não consigo... respir...! – disse ofegando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Memories (Truth or Dare?)
FanfictionA jovem Isabella perdeu a memória. Após passar dias vagando fraca e sem rumo por florestas e estradas desertas, o misterioso Edward salva sua vida. Ele lhe oferece abrigo em sua cabana secreta, e aos poucos os dois descobrem em uma inocente e leal a...