Dezessete fracassos

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Na minha pacata e ilusória vida muitos fracassos vieram, ao lado de muitos sucessos e também de grandes experiências. Tudo virava aprendizado e depois de cada fracasso eu os corrigia e estava pronto para não repetir o mesmo erro.

Acontece que por vários anos eu sempre fracassava em um único evento. Jamais (e isso que eu tenho provas) eu consegui me superar e fazer essa data especial se tornar no mínimo uma coisa bacana e divertida, ao contrário, o fiasco sempre reinava me fazendo passar vergonha atrás de vergonhas.

De todas as minhas festas de aniversário, nenhuma conseguia fugir do mesmo caminho que todas seguiam. O fracasso eminente.

Podemos começar pela minha festa de 5 anos. Meu pai queria porque queria uma decoração de futebol do Corinthans, mesa, cadeiras, bexigas e até mesmo o bolo com símbolos do seu time preferido. Para a alegria dele o time jogaria um clássico contra o Palmeiras no mesmo dia da festa, conclusão: Corinthans perdeu de goleada, meu pai saiu no murro com um dos meu tios Palmeirenses por causa de uma discussão e de raiva destruíram a metade da festa...

Os anos se seguiram e com 11 anos mais uma festa chegou. Dessa vez uma tia minha comeu um salgado de camarão e ela era alérgica. Me lembro até hoje da cara dela inchando bem na minha frente e eu chorando desesperado sem saber o que fazer. Todos foram com ela para o hospital e eu fiquei lá em casa sozinho...

A de 15 anos foi até legalzinha e normal, mas foi nessa festa que eu conheci a Rosemônio e por isso ela merece um lugar especial nas mais fracassadas.

O ano passado, nos meus 16 anos, inventaram de fazer uma festa surpresa, eu já sabia faz um bom tempo pois ninguém na minha família sabe guardar um segredo... Eu estava completando uma semana de namoro com o Rodrigo e as coisas estavam uma maravilha, ele disse que iria passar um fim de semana na casa da vó e ficaríamos longe um do outro. No dia do meu aniversário eu cheguei em casa e vi todo mundo cantando parabéns e eu pensei que aquele ano as coisas iriam mudar e eu teria uma festa bacana e divertida, na minha mente aquela história de "casa da vó" era invenção do Rodrigo mas quando eu vasculhei a casa inteira a procura dele e não o encontrei... bem não consegui sorrir pelo resto da noite.

Apesar dos pedidos de desculpas, a semana inteira que passamos juntos para compensar e todos os presentes que ele me deu. Sem o Rodrigo naquela festa eu a poderia considera-la o meu décimo sexto fracasso.

Dia três de Julho, essa mesma data aonde tudo sempre dava errado e que como lei nada dava certo...

- Ei Imperador, acabei de receber por e-mail o dia do nosso jogo do campeonato municipal...

Ana me parou no corredor toda animada, ela se sentia cada dia mais importante dentro do grupo, de fato ela era...

- Vamos jogar contra o time da escola no dia Três de Julho, quem ganhar se classifica para os regionais, isso vai ser tão divertido!!!

Demorei coisa de cinco segundos para entender o que aquilo significava e então entendi que eu era a pessoa mais azarada do universo.

Jogaríamos no dia do meu aniversário contra o time do Professor Guilherme, o jogo que eu tinha que vencer a qualquer custo. Mas no fundo eu já sabia.

Com a minha derrota no jogo, não teria festa, não teria alegria, não teria nada...

E com isso eu completaria os dezessetes fracassos.

...

- Então você e Gale...? - eu perguntei a Bia

- Vamos nos casar Cesar - ela respondeu irônica.

- Sério? - eu me preocupei demais não percebendo a ironia.

- Claro que não Cesar, eu só fiquei com ele...

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