Quando você estiver despreparado

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Eu estava quase acabando de escrever mais um capítulo quando eu levo um baita de um susto.

- O que você está fazendo aí?

Dei um pulo da cadeira e fui apertando o botão de fechar a tela sem ao menos salvar o que eu tinha levado horas para escrever.

- Não é nada não, só um trabalho da faculdade.

Felipe sorriu. Ele já me conhecia e sabia quando eu estava mentindo.

- Até parece que Cesar Frederico Neto faz trabalho da faculdade - ele sorriu - e ainda mais quando já são quatro e meia da manhã.

Olhei para as horas e tomei um susto. Nem tinha visto o tempo passar tão rápido assim, havia ficado escrevendo por mais de cinco horas seguidas e tudo havia sido jogado fora, pois eu acabara de fechar a janela do meu computador.

- O que você quer? - perguntei a Felipe - Me deixa um pouco pô!

Felipe ficou quieto me analisando por uns dois minutos quando ele voltou a me encher:

- Você anda muito estranho, passou a semana inteira aí, sentado nesse computador digitando feito louco. Só estou preocupado com meu melhor amigo...

- Escuta. - falei calmamente - eu estou bem ok? É que esse semestre foi bem difícil com todas essas mudanças e tudo mais. Só preciso de um tempo para parar e respirar um pouco.

- Parar a vida para sentir a vida? - Felipe perguntou.

- É isso aí.

Frustrado por não ter nenhuma resposta melhor, Felipe levantou-se e desistiu de me dar azia. Mas quando eu já tinha me dado por vencido, ele me joga uma bomba:

- Arranjei carona para nós dois voltarmos amanhã - ele disse - chegaremos na quinta a noite cara! Vamos poder dar uma passada na escola matar a saudade na sexta! Não é demais?

Voltar para a escola não estava nos meus planos. Eu já havia reconstruído e esquecido grande parte das coisas para parar de sofrer. Ir lá e recordar tudo parecia uma grande cilada. Por isso eu estava decidido a voltar apenas para ver minha família.

- Tudo bem - respondi - agora eu só irei terminar o trabalho aqui.

Quando Felipe voltou a dormir, abri a página branca do world e voltei a escrever tudo desde o começo. Havia ficado uma semana digitando minha história, tentando entende-la, reinterpreta-la e agora eu estava tão perto de acabar...

E então eu me perdi novamente no passado

...

- Quase não tô acreditando que a gente vai dividir um Apê! - Felipe ressaltou isso pela milésima vez.

Estávamos nós dois no meu quarto, fuçando o vasto mundo da internet a procura de um lar em São Paulo para nos mudarmos no próximo ano.

Tinha contado a notícia para o meu pai que havia passado no vestibular e eu nunca vi aquele homem tão feliz na vida dele. Abraços, carinho e tudo o que ele havia evitado fazer por um tempo, voltaram à tona depois que eu joguei essa notícia. Agora eu tinha um mundo de possibilidades e morar em São Paulo com meu melhor amigo seria incrível.

Porém...

- Olha esse apartamento aqui! - mostrei a Felipe um anúncio bem bacana de um prédio bem localizado, com dois quartos, sala cozinha e banheiro, tudo por um preço joia, seria ideal.

- CARACA! - ele falou surpreso - é esse mesmo que a gente tem que alugar.

Anotei o contato e desliguei o computador satisfeito. Respirei, aliviado por ter dado um rumo certo para a minha vida. Mas ainda tinha um único ponto pendente. Rodrigo.

Só nós conhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora