Platônico

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Eu estava amando novamente.

A professora de Filosofia explicava para a toda sala o significado do que era o amor Platônico. A aula sobre o filósofo Platão era tão interessante quanto um bingo valendo um frango mas mesmo assim eu conseguia prestar um pouco de atenção em suas palavras:

- O amor platônico não leva em consideração o apego sexual "blábláblá" (parte que eu pisquei os olhos) pois o amor carnal cega os verdadeiros sentimentos "bláblábláblá". Também é visto como um amor perfeito e ideal e muitas vezes inatingível. Um amor impossível.

Eu estava sentado atrás de Felipe. A minha última carteira, encostada na parede (aonde eu tirava belos cochilos) dava a maravilhosa visão daquele garoto.

Sabe quando você olha para uma pessoa e de repente sente algo muito diferente dentro de si? Você logo imagina uma vida imaginária aonde vocês serão felizes, aonde tudo possa dar certo? É como se sua alma gêmea estivesse parada ali na minha frente, apenas alguns metros de distância. E isso sem eu a menos saber quem era esse tal garoto.

A segunda-feira chegou e com ela o começo de uma grande semana que estava por vir. O fim de semana tinha sido trabalhoso e nem tão divertido como eu esperava que iria ser. O começo da semana só veio para mostrar que eu não teria tempo de descanso nesse meu último ano.

Pela primeira vez na vida eu assistia a uma aula de filosofia. Tinha em meus planos em chegar na sala, encostar a minha cabeça na parede e dormir aquilo que eu não conseguia dormir na minha casa. Os planos foram por água abaixo quando eu avistei o garoto.

Era um aluno novo. O começo do ano tinha sido conturbado e eu mal tive tempo de conhecer a minha sala. Fazia tantos anos que tudo permanecia igual, então aquilo foi meio que inesperado por mim. O menino tinha a pele bronzeada, um cabelo preto puxado para o cinza bagunçado, um rosto belo e meio frágil com olhos castanhos brilhantes e lábios rosados e pequenos.

Quando eu o encontrei ali sentado na primeira fileira minha mente viajou por dentro daqueles olhos. Foi como se cada minuto da minha vida tivesse feito sentido ali naquele exato momento ou não tivesse sentido nenhum.

Aquilo era amor a primeira vista.

O sinal tocou mas eu não me levantei como de costume. Iria assistir as duas próximas aulas seja lá qual fossem, foi isso que eu fiz. Felipe e Bia tentavam puxar algum assunto comigo mas eu apenas respondia com monossílabos. O intervalo chegou e com isso aquele garoto se levantou e eu tive a visão de corpo inteiro da minha mais nova paixão. Ele era poucos centímetros menor do que eu. Suas costas largas, braços com pequenos músculos definidos deixavam a camiseta da escola agarrada em seu peito e parecia curta de mais. Por trás daquela cara de fortão, ele parecia ser muito inteligente ou ele não tinha nenhum amigo porque sentar na primeira carteira não era bem a cara de um garoto no estilo dele.

Sem pensar duas vezes eu o segui. Ele caminhava em direção a cantina e eu como um bom admirador ia atrás dele.

- Ei Cesinha, compra uma coxinha para mim? - escutei Igor do meu lado passando uma nota de cinco reais para mim - essa fila está muito grande pô...

Peguei o dinheiro sem tirar os olhos do garoto. No momento ele era atendido e pedia um salgadinho de cebola. Eu também amava salgadinho de cebola e aquilo só fez o meu amor por ele aumentar.

- Oi, qual é o seu? - a tia da cantina perguntou e eu nem tinha visto que a fila tinha andado de pressa.

- Eu... eu... - minha cabeça pareceu rodar um pouquinho enquanto eu ainda via aquele garoto com o seu salgadinho a mais ou menos uns dois metros de distância de mim. - Eu quero um salgado de... - meu coração gelou quando o garoto olhou para mim e me viu encarando-o - eu quero um churros sem recheio.

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