Um ódio que só nós conhecemos

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 Foi meio que irracional. Abri os olhos e já estava voando pra cima do Rodrigo com a maior raiva do mundo, teve um ou outro que até ameaçaram me segurar mas pela raiva que eu estava ninguém tentou nada.O primeiro murro eu acertei bem no lado esquerdo daquele rostinho lindo dele, ele deu uma cambaleada para trás e tentou se recompor porque ele não acreditava que eu ia levantar tão rápido do chão. O segundo soco eu atingi de raspão perto da orelha dele, mas o lazarento tava esperto e conseguiu desviar e me prender por trás. A quadra inteira estava gritando, alguns para chamar a direção e outros porque queriam ver mais brigas.Eu cheguei no meu limite de raiva, apertei o cu, fiz força e consegui me livrar dele e derruba-lo no chão.

Apesar de ele fazer academia e ficava postando foto pagando de fortinho no Facebook, nem era tudo isso não. Os meus anos carregando carrinho de mão cheio de tijolo com meu pai trouxeram bem mais resultados. E a prova disso era que ele estava caído lá no chão e eu "montei" em cima dele e comecei a esmurra-lo o mais forte que eu podia.Minha mão ardia, mas na hora eu não sentia nada. Quando eu notei que a cara dele estava sangrando um pouco fora do normal eu decidi parar, mas o filho da puta ainda me olhou e disse:

- Você é um covarde, eu vou quebrar a tua cara, seu babac.... - dei uma bicuda na barriga dele para ele calar a boca.

Senti uma mão no meu ombro me puxando para trás, tentei tira-la dali, mas percebi que a força que essa mão estava fazendo não era tão fraca assim.Olhei para trás e vi o treinador me encarando furioso.

- EU QUERO OS DOIS NA SALA DO DIRETOR AGORA!!!!! E O PRIMEIRO A ABRIR A BOCA VAI JUNTO!

De repente a quadra ficou em um silêncio profundo, fui indo para a sala do diretor na frente ainda um pouco puto, olhei para trás e vi o Rodrigo vindo junto com o treinador.Ele tava com o rosto muito vermelho e saia sangue da sua boca, umas das mãos estava colocada na barriga aonde eu percebi que foi onde eu acertei o chute.Eu estava bem até, minha boca doía um pouco e meu punho estava doendo pra cacete e sangrando porque eu acho que sem querer quando eu estava esmurrando ele eu acabei acerto um soco no chão da quadra.

Entramos na sala do diretor e estava vazia, o treinador nos deixou sozinho na sala enquanto ele ia procurar o diretor.Rodrigo não olhava nem sequer uma vez pra minha cara e eu não tirava o rosto dele. Chegou uma hora em que eu escutei passos chegando e pra provocar comecei a dar risada baixinho.

- Então, é esses os dois franguinho que andam se bicando? - disse o diretor se sentando na sua cadeira.

 O diretor devia ter uns 50 anos, ele tinha os cabelos grisalhos mas no fundo ele parecia um molecão. Geralmente ele era super de boa com os alunos. Ele vivia falando sempre a mesma frase "estude, use camisinha e não use drogas", era meio que seu slogan. Seu nome era Antônio, mas todo mundo chamava ele de Diretor Tonho.

- Esses dois aqui diretor, estavam se agredindo na quadra da escola. Causaram o maior tumulto no meio dos alunos.

 O diretor nos olhou com uma cara desinteressada:

- Quem começou?

 Ninguém falou nada

- Pelo jeito vou ter que chamar suas mães qui na escola...

 "Foda-se" pensei, eu não morava com minha mãe mas apesar disso quando pediam endereço e telefone eu sempre passava o dela porque ela sempre foi de boa com relação a escola. Na verdade foi ela que me ensinou aquele esquema de matar aula falando que ia no banheiro cagar. Eu aprendi isso em um reunião de pais em que ela disse que ia no banheiro e não voltou mais. Demorei para perceber que ela tinha escrito na carteira onde estávamos sentado "Apaga isso aqui na carteira e vamos embora". Provavelmente se ligassem para ela , no máximo ela me perguntaria se eu tinha apanhado porque pra ela "Pode brigar na escola, mas se eu souber que você apanhou quando chegar em casa vai apanhar mais ainda".

Só nós conhecemosOnde histórias criam vida. Descubra agora