O trote do fauno

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 BARRRUUUUUUUMMM! (isso era para ser uma onomatopeia de trovão)

- Essa chuva não vai parar não? - Alê me perguntou preocupado - eu não consigo te escutar direito.

 De verdade a chuva havia retornado com tudo. O pequeno ponto de ônibus quase não conseguia proteger nossas cabeças de receber a água que caia violentamente do céu. Lembrei-me de algo que eu não queria lembrar e não tinha nada ver com casinhos de amor dessa vez... eu precisava urgentemente tirar a água do joelho (ou dar uma mijada se você curte um vocabulário mais culto).

- PRECISO FAZER UM PIPI - gritei para o Alexandre me escutar.

- Pelo amor de Deus! - ele se indignou - trate de fazer do outro lado da rua. Eu não quero ficar aguentando o cheiro de mijo por mais umas três horas.

- Você quer que eu tome essa chuva inteira só para mijar? - perguntei - eu vou me molhar todo!

- Então segura até a chuva passar um pouco. - ele não se importou nem um pouco comigo.

 Olhei para o outro lado da rua e vi uma moitinha perfeita para realizar o meu ato. O problema seria ficar exposto por uns dois minutos na chuva, iria me ensopar por inteiro. Mas eu não me importei e tive a melhor ideia de todas.

 Arranquei o meu moletom, tirei a camisa preta de manga comprida que eu usava por baixo. Alexandre me olhava com um sorriso malvado no rosto, mas eu não me importei. tirei o tênis e a meia e logo após abaixei a calça jeans. 

 E apenas de cuequinha preta eu corri no meio da chuva para me aliviar.

 Em menos de dois minutos eu já havia voltado. Ao som de risadas eu entrei em baixo da cobertura e comecei a me secar com a camisa. Alexandre também estava um pouco molhado então fazer companhia para ele não seria problema.

- O que foi? - perguntei quando ele não tirava os olhos do meu corpo - gostou leva pra casa lindão...

 Minha risada saiu tremida devido ao frio. Alê não achou graça e apenas ficou me fitando com seus olhos:

- O que houve com suas costas? - ele foi direto para a pergunta.

 Levei as mãos até a base das escapulas e uma mistura de raiva e vergonha tomaram conta do meu corpo.

- Isso é uma tatuagem? - Alê se levantou para ver de perto - CARAMBA! PORQUE VOCÊ TEM UMA TATUAGEM DE FAUNO DESENHADO NAS SUAS COSTAS?

 Meu corpo inteiro se arrepiou de raiva só por te lembrado daquilo. A dor, a humilhação, tudo. Sentei no banco e tentei me acalmar um pouco.

- Nossa que cara é essa? - Alê insistia feliz - porque diabos você tatuou um fauno nas costas cara? Pensei que você tinha odiado o apelido.

  Respirei fundo. De qualquer forma eu teria que contar aquilo para ele. Mas como?

- Essa tatuagem eu ganhei no famoso "trote do fauno".

...


- PRÓXIMO!

Entrei em uma pequena salinha de escritório e me deparei com uma banca sentada atrás de uma mesa. Nela se encontrava dois homens adultos e um jovem da minha idade. O primeiro era conhecido como "Vilma", era o treinador do time de vôlei. O segundo era um homem vestido de terno e gravata que eu mal cheguei a saber o nome, mas tinha certeza de que era um dos grandes patrocinadores do time e o último era um garoto cheio de músculos, usando a jaqueta do time de vôlei, seu nome era "Henrique" e era o capitão. Os três estavam na comissão dos testes desse ano e agora eu teria uma última entrevista para ver se eu era "digno" de entrar no time.

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