Capítulo 05

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Arqueei a minha sobrancelha decorrente da fala que acabara de ouvir da boca da minha aluna. Em um suspiro um tanto quanto confuso, cedi com a cabeça e pedi desculpas por não ter batido a porta antes de entrar. A tensão instaurou-se e eu abdiquei, saindo daquele minúsculo lugar que tornou-se.

Juntei a minha papelada e prendi o meu cabelo que insistia em cair sobre os meus olhos. Não estava com cabeça para tentar entender o por quê de tal fala, mas sabia também que ela não agregaria em nada na minha vida. Apenas uma garota mimada inconformada com a sua própria realidade.

Tranquei o meu escritório e, antes de sair do lugar, notei uma presença medíocre me observando de longe. Poderia ser ríspida e fingir insensibilidade, mas não desceria aos seus pés e as suas atitudes tão descabidas.

Maiara aproximou-se como um gato refém do seu dono; amedrontada e encolhida. Meu olhar estava esguio, demonstrando a superioridade em meu ser. Inalei o ar delicadamente e soltei levemente pela boca, observando a mais baixa se desculpar por sua fala.

– Não quis diminuí-la. Não tenho nada contra você ser funcionário do meu pai, eu só…

– Só é inconveniente.

Pude sentir o ódio percorrer em suas veias, mas estava pouco me fodendo para as suas reações que inflam o seu ego. Sai, pisando levemente, deixando para trás qualquer resquício de um dia estressante.

Busquei Marcela por volta das 17h, inferiormente ao seu horário fixo. Marcamos de irmos ao parque hoje para comemoramos seu boletim recheado de notas altas. Sempre foi um costume - em nossa família - comemorarmos algo válido e ideal aos nossos olhos.

Ela saltitava, feliz, falando que brincou alegremente com o seu amigo que lhe deu um pedaço do seu lanche diferente.

– Mamãe, tinha gosto de… amoeba. - disse Marcela, com os dedinhos na boca.

Ri, desprevenida da sua comparação.

– Você já comeu amoeba?

– Claro, né mamãe. Eu fico toda suja, lembra?

Ela estava falando do gosto da ameixa.

Beijei seu rostinho e segurei em sua mãozinha, guiando-a no brinquedo giratório daquele lugar. A minha meta é sempre fazê-la feliz e lembrar da sua importância em minha vida.

O sol estava se pondo, e eu sempre fui uma admiradora eloquente. Sentei, cruzando as pernas e admirando o fim daquela tarde tão gostosa ao lado do meu único amor. Marcela adormeceu em meu colo, seus cabelos castanhos estavam expostos em seu rostinho tão fino e delicado. Suas mãozinhas cobriam seus olhinhos. O sol ressoava em sua pele alva, em seus cabelos ondulados. Em sua essência.

Uma cena jamais esquecível, para mim.

Maiara.

– Ela se acha. A ignorância dela reflete em sua personalidade medíocre. Não suporto estar no mesmo lugar que o dela, irmã! - desabafei, completamente chateada com o que aconteceu mais cedo na empresa do meu pai. – Além de professora, não passa de uma funcionária que recebe um salário mínimo.

– Maiara, você está sendo rude sem motivos.

– Sem motivos? Ela me chamou de mimada.

– Não discordo dela - comentou, brevemente. –, ainda mais depois da sua atitude. Não deveria falar como se fosse algo… qualquer.

– Não gosto dela e nunca irei gostar. Patética! - Rolei os olhos.

Sai do quarto e deixei a minha irmã a sós. Estava irritada com tamanha indelicadeza de uma profissional, além do mais havia discutido com o Henrique. Sentei no estofado, deitando todo o meu corpo e mexendo no feed. Fiquei admirando por alguns segundos inconsciente a foto da minha professora. Apesar da sua árdua indelicadeza, ela possuía um corpo extremamente lindo. Suas curvas sempre estão realçadas em suas vestimentas, e o que mais prende a minha atenção é a impossibilidade de não notar a curvatura perfeita que desliza da sua cintura até o seu quadril definido.

Me assusto ao ouvir a implicância da minha irmã.

– Não gosta dela e está babando em suas fotos? Interessante.

– Larga de ser tonta, não vê que está em meu feed? Nem sei porque sigo ela. – Estava irritada por sua tendenciosa verdade que afligia o meu ego. – E além do mais… Ela é só uma qualquer.

– Repita isso para si mesma até que se convença de que ela não mexe com você.

– Maraisa, eu acho que você esqueceu que sou hétero e que possuo namoradO há dois anos. - Destaquei o "o". – Quem deve gostar de mulher é você.

– E gosto mesmo. Sou bissexual assumida.

– Eca!

Fingi a ânsia e ela relutou, inspirando e se distraindo em seu celular. Meu pai chegou transtornado, com os olhos dilatados e a fúria estampada em seu rosto.

– O que houve, pai?

– Como ousa destratar a minha funcionária e leal amiga?

– Você só pode estar de brincadeira comigo, papai. - Resmunguei, batendo o pé e subindo as escadas.

– Volta aqui, Maiara Carla! Eu não aceito que você trate ela como uma pessoa qualquer. Ela nunca te fez nada!

Recuei um passo e fuzilei o meu pai. Por que todo mundo a defendia? Ela prontamente é uma fingida que só quer ocupar os pertences do meu pai, e além do mais, é uma péssima professora de pole. Não contém profissionalismo e sequer uma postura adequada.

– Ela me difamou!

– Como ela te difamaria?

– Difamando! Me tratou mal durante a aula de dança e finge ter superioridade. A dona daquela empresa também sou eu!

Meu pai sequer esboçou reação, porque ele sabia que eu era filiada à sua. Não por ser sua filha, mas por fazer parte da administração e diretoria daquele lugar.

– Espero que você saiba, da próxima vez, se comportar devidamente! Não foi assim que te eduquei!

Suspirei e segui para o meu quarto. Hoje terá aula, mas irei somente para cancelar a inscrição que fora feita sem a minha permissão. Assim como coordeno uma empresa, tenho total direito de decidir onde posso realizar as minhas habilidades.

Na ponta do Salto - MAILILAOnde histórias criam vida. Descubra agora