Capítulo 21

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A tensão paira sobre o ar, especificamente sobre mim. Não sei por que caralhos inventei de me enfiar nessa merda. Onde que eu estava com a cabeça em achar que seria apropriado flertar com uma mulher casada?

"Que merda, Maiara!"

Não há nada que embrulhe mais o meu estômago do que imaginar a cena que irei prestigiar mais tarde. Ver Marília, ao lado do seu esposo, entre carícias de amor, me embrulha!

Mas a culpa é minha por me permitir continuar nisso. Eu posso quebrar todo esse enlace que criamos, eu só não possuo coragem. Eu só não quero. Pelo contrário, quero continuar; quero continuar paquerando-a; quero continuar até que continuemos na cama o que começamos em um salão de dança.

Estou arrumada, escolhi um dos meus melhores looks casuais para o encontro, mas não quero vê-la. Não quero vê-los. Adoro a ideia de saber que a pequena Marcela sente minha falta, confesso que tenho um amor condicional por aquele ser; baseado no sentimento que nutro por sua mãe.

Paralisa em frente ao espelho, admirando a coragem que estou tendo, suspiro profundamente e permito o ar sair dos meus pulmões. Analiso todo o meu rosto, os inúmeros fios rebeldes, a boca contornada por um batom pouco chamativo, as bochechas coradas e a leve maquiagem que destaca os meus olhos e nariz.

Suspiro diversas vezes, andando pra lá e pra cá no meu quarto, me perguntando se realmente convém ir até à casa Dias, encarar o marido da mulher que tanto quero, só porque uma criança de 4 anos suplica por minha presença. Aleatoriamente.

Ao chegar à porta, respirei fundo e toquei a campainha. O som ecoou pela casa, e poucos segundos depois, Marília abriu a porta com um sorriso caloroso no rosto. Seus cabelos loiros caíam em cascata pelos ombros, e seu vestido vermelho realçava sua beleza.

Uma garotinha de olhos grandes e cabelos cacheados veio correndo na nossa direção. Ela me olhou com saudade, e eu me abaixei para ficar à sua altura.

Marcela tomou toda a minha atenção com a sua presença tão esperada, mas enquanto conversava com a pequena, não conseguia disfarçar as mãos trêmulas ao ver Marília paralisada ao nosso lado.

Que xaudade, tía Mama! - disse a pequena Marcela, abraçando meu pescoço cuidadosamente. Gentilmente, peguei-a no colo, ainda mantendo-a abraçada ao meu corpo.

Beijei diversas vezes as suas bochechas gordinhas. Seu cheiro de neném transpirava em sua pele, e consequentemente me fazia delirar de amor. Arrumei seu cabelinho liso com os dedos. A pequena estava com a sua chupeta em sua boca, quando repousou sua cabeça na curvatura do meu pescoço, aninhando-se ali.

— Senti saudade de você também, meu amor! - Meus braços ninavam lentamente a pequena.

Adentrei à casa, após Marília sorrir gentilmente e conceder-me. Estar no mesmo ambiente que ela, resulta em memórias inconsoláveis até o momento. É inevitável não sentir toda essa apreensão que Marília me causa com sua presença marcante.

Marília nos guiou até a sala de jantar. Ela caminhava atrás de mim, e eu juro que se não estivesse com a sua filha em meus braços, já teria tropeçado ou colocado-a contra a parede e estando ela.

Na verdade eu a beijaria, lentamente, deliciosamente… Subiria seu vestido e perderia os meus dedos dentro dela.

Se concentra, Maiara!

Concentração.

A tensão estava no ar quando Marília me apresentou a Murilo, seu esposo. Estava com Marcela no colo, tentando sorrir de forma amigável, embora meu coração estivesse batendo descompassado.

Na ponta do Salto - MAILILAOnde histórias criam vida. Descubra agora