Capítulo 29

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Acordei com uma dor de cabeça latejante e um gosto amargo na boca, resultado da festa de ontem à noite. Ao abrir os olhos, vi Murilo, meu marido, ao meu lado na cama, ainda dormindo pacificamente. Lembrei-me das risadas, das músicas altas e das taças de champanhe que bebi.

Com muito esforço, sentei-me na beira da cama e me senti completamente exausta. Meus pensamentos se voltaram para Maiara, com quem havia planejado um encontro hoje. Sabia que não podia simplesmente sair sem dar alguma desculpa a Murilo.

Levantei-me com cuidado para não acordá-lo, cambaleando até o banheiro. Tomei um longo banho, na esperança de que a água quente aliviasse minha ressaca. Enquanto a água escorria sobre mim, comecei a pensar em uma desculpa plausível. Talvez uma amiga que precisava de ajuda, ou um compromisso de trabalho de última hora.

Saí do banho, vesti-me e desci até a cozinha, onde Murilo já estava preparando o café da manhã. Ele me lançou um sorriso sonolento.

— Você parece cansada, querida. - disse ele, preocupado.

Assenti, segurando minha cabeça.

— Estou exausta - confesso, sentando-me à mesa. — Porém, o cansaço é fruto de uma reinauguração além do esperado. Foi tudo incrível! - Bato palmas, e apoio minha cabeça em uma das minhas mãos logo em seguida.

— Que pena que não pude ir… Mas tenho certeza que foi incrível mesmo! Com uma mulher gostosa no comando, tudo se torna incrível - sussurrou Murilo, próximo aos meus lábios, roubando-me um beijo.

Fiquei paralisada diante do seu ato. E mais uma vez retorno a pensar em Maiara. A saliva para no meio do caminho, fechando a minha garganta por completo. Sinto o meu coração apertar, como se eu estivesse traindo-a. E na verdade, eu estou me traindo. Eu estou traindo o pai dos meus filhos.

E toda a culpa recai sobre os meus ombros novamente. Penso no Murilo, na Marcela. Na Maiara. Penso no que aconteceria se descobrissem, na minha carreira e na minha reputação. Penso em César, que me mataria ao saber que a filha estaria envolvida amorosamente com sua amiga de longa data.

Inspiro, puxando todo o ar. Com as mãos sobre os olhos, esfrego-os, tentando disfarçar meu olhar. Pego a xícara delicadamente e bebo do café. Meus olhos vagam pela cozinha, lembrando de todos os momentos bons que tive ao lado do meu marido. Sorrio, ao lembrar-me da minha filha. E sem perceber, Murilo está me olhando, com a pupila dilatada e com um sorriso imenso em seu rosto.

— Eu te amo! - Murilo afirma, distribuindo carinho sobre a minha mão. Seu olhar procura pelo meu. — Você é a melhor esposa do mundo! Eu sou completamente apaixonado por você, Marília.

E, mais uma vez, sofro. Sofro ao ouvir, quando poderia sorrir. Sofro ao lembrar, quando poderia evitar. Tenho que dizer que o amo de volta, mas a realidade é que não sei. Estou dividida entre duas pessoas completamente diferentes. Estou dividida entre quem jurei ser o amor da minha vida, e a quem sorrio todas as vezes em que lembro do significado da palavra amor.

Merda. Merda. Merda. Tudo. Isso. É. Uma. Merda!

— Amo você! - Minha voz sai falha, cambaleante, porém ele não percebe, somente beija minha mão. — Lindo! 

Já estava pronta, Maiara me ligou há uns 10 minutos. Falei a verdade para o Murilo, disse que iria encontrar Maiara para debatermos sobre alguns assuntos pendentes da empresa. Ele apenas assentiu, beijou os meus lábios e saiu. Murilo foi jogar bola com os seus amigos. Não sei se ele está mentindo, às vezes acho que sim, porém não possuo direito de desconfiar.

Meu casamento está arruinado, eu arruinei. E, racionalmente, não sofro com isso. Sou casada há anos com o Murilo, uma hora ou outra algo esfriaria entre nós. Já não sinto mais vontade de fazer amor com ele, tampouco de conviver por muito tempo ao seu lado. Não brigamos, não nos desentendemos, eu apenas não sinto mais essa necessidade de permanecer ao seu lado todos os dias da minha vida.

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