Controlar sua respiração, juntamente com a pulsação do seu coração, interligando as reações do seu corpo, é dificílimo. Mas difícil ainda é resistir à impeta vontade de possuir os lábios de quem tanto transpira desejo por você.
— É essa a visão que quero ter quando estiver te chupando. - Marília sussurra pausadamente, causando-me um naufrágio de sensações repentinas.
Me afasto dela, em um ato impulsivo e justificativo. Apressadamente, volto ao meu posto, ainda tentando decifrar o que aconteceu.
Consigo sentir, até o momento, todos os arrepios que Marília me causou quando o meu corpo estava curvado. E que tentador é possuir a certeza de que ela sempre conseguirá desnortear-me.
A aula acabou e, apressadamente, me retirei daquela sala que mais parecia uma sauna de tão quente, pelo menos para mim. Com os passos apressados, somente ouvi sua voz em uma longa distância, mas não parei. Não ousei parar.
E antes que me julguem, eu estou na razão. Não posso deixá-la usar das minhas fraquezas para vangloriar seu ego. Sinto raiva, não dela, mas de mim. Sinto raiva, porque a desejo tanto que está estampado na minha testa. Sinto raiva, porque deixei meu ex-namorado ir e não sinto um pingo de remorso.
Que ser merecedor sou eu, se não apenas de uma boa transa?
Agora, me encontro virando inúmeros copos de cerveja, tentando livrar-me do peso imensurável que carrego.
Meu celular está vibrando repentinamente em meu bolso, mas provavelmente sei que é o Henrique tentando me convencer a voltar. São uma, duas, três vibrações repentinas. Enfurecida, retiro meu celular do bolso e me assusto, não com as ligações mas com a voz feminina que ecoa de longe e chama a minha atenção.
A figura a qual não vejo há séculos, encontra-se parada na minha frente, com o mesmo olhar cativante e sexy. Me seguro para que os meus olhos não deslizem para o seu decote. Provavelmente o álcool está circulando rapidamente em meu sangue. Notório.
— Não vai me cumprimentar, Carla? - ela murmura, apoiando suas mãos na cadeira livre ao meu lado. Prontamente, viro o líquido ardoso em minha boca, sentindo-o queimar toda a extensão da minha garganta. — Me concede? - diz, esperando que eu a convide.
— A "reina" voltou? Para o meu desagrado… - reviro os olhos, bufando, completamente sem paciência.
— Como sempre, um doce. - Ela arrasta a cadeira e se senta, sem a menor permissão. — Quem te feriu dessa vez, hum? Sei que costuma encher a cara quando as coisas fogem do seu controle.
— Não enche a porra do meu saco, Luiza. - Reluto, não quero olhá-la. Aliás, não queria vê-la. Não de novo.
Luiza Sonza é minha prima de terceiro ou quarto grau. Não a vejo há meses. Da última vez em que nos vimos, discutimos bastante. A Luiza foi o meu primeiro beijo. Sim, a primeira pessoa que beijei, foi ela. Transamos uma, duas. Várias vezes. E não é algo que me orgulho. Me arrependo pra caralho de ter tido algum envolvimento com ela. Ela é insuportável.
— Não deveria falar assim comigo, Carla. - Seu tom é esnobe, mas não me aguça em nada. Somente a olho de canto. — Tá, parei. Agora me fala, por quê está bebendo desse jeito?
— Me deu vontade. De praxe.
— Maiara Carla, - ela solicita — Terminou com o brocha?
Nossos olhares se encontram. Quero rir da correlação, mas evito mais constrangimentos interiores. Já estou farta de remorsos, não quero criar mais um. Porém, ela entende. E ri, não por deboche, mas por sinônimo de vitória.
Eles se detestavam.
— Eu sempre te falei que ele era um brocha, Maiara. Um pé rapado! - afirma, bebericando da sua cerveja. — Agora que você está solteira, não quer relembrar os bons e velhos momentos, hum?
Cerro as pálpebras e permaneço em silêncio, segurando o copo em minhas mãos. — Fala sério, Luiza. - exalo a respiração que outrora prendia.
— Por que não? Ambas estão solteiras e… - tento disfarçar a tensão em meus ombros. — Existe uma mulher.
— Não existe nenhuma.
Só existe uma; uma que me tira o fôlego.
— Se não existisse nenhuma, você estaria me devorando neste exato momento, Carla. Então sim, há uma mulher. Quem?
— Sabe, existe sim…
— O quê?
— A minha vontade de não querer transar com você.
Luiza respira fundo e estuda meu rosto. Reviro os olhos, trazendo o copo até os meus lábios. Meus olhos estão fixos na passarela daquele lugar, torcendo para que alguém diferente e ousado me retire daquela mesa. Ou, alguém que o meu corpo proclama para ser dominado.
— Escrota! - Ela bate as mãos levemente na mesa.
Vejo-a se afastar e solto uma lufada de ar. Luiza não pode saber que estou interessada pela Marília. Somente ela sabe que me relaciono com mulheres, ou pelo menos me relacionei. Na verdade, ela foi a única - até agora - que tive relações.
Mas agora, estou ardendo em desejo por outra loira.
Não há comparações entre tais, mas há desejo por uma.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Na ponta do Salto - MAILILA
FanfictionMaiara, uma jovem mimada de 24 anos, vê sua vida mudar drasticamente quando seu pai, o poderoso dono da Stilus, contrata a autoritária e arrogante Marília como sua nova professora de dança. Inicialmente, Maiara rejeita a ideia de ter Marília por per...