Capítulo 12

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O mais engraçado nessa história toda, é que nunca perco, mas dessa vez sinto que perdi. Perdi a possibilidade de colocá-la em seu lugar, por vulnerabilidade me entreguei a fiascos. Eu não entendo, não consigo assimilar o que aconteceu. Preciso, agora, lidar com o fato de que possuo dois problemas: meu namorado e a desgraçada mulher que está fodendo com o meu psicológico.

Inspiro, soltando o ar pela boca. Cruzo as pernas. Não presto atenção em um "a" dito pelo meu pai. Já sei de có e salteado tudo que está a me falar, visto que ele me falou isso inúmeras vezes anteriormente. Sabemos que haverá uma reinauguração, isso não é novidade. E como de praxe, inúmeros repórteres e fotógrafos estarão na empresa para memorizar o evento marcante que será a reinauguração da S'tilus.

Acomodada em minha cadeira, alcanço meu celular e prescrevo algumas mensagens para o Henrique. Não o verei por, pelo menos, alguns dias. Possuo desculpas suficientes para não ter que encará-lo. Não deixei de amá-lo, apenas, por um momento, preciso de espaço para respirar e alinhar meus pensamentos.

Largo o celular como um objeto qualquer sobre a mesa, não estou com paciência para nada hoje. São quase 22h da noite e a única coisa que consigo pensar é naquela maldita noite. Como poderia eu ter me envolvido tanto com a Marília? Foi tão natural…

Com as mãos em meu couro cabeludo, consigo sentir o desconforto do meu corpo. Estou cansada, meu dia foi extremamente cheio.

— Droga… - solto o ar pela boca — Esse dia não acaba mais!

— Por quê ainda está aqui? - A voz familiar e penetrante que tanto conheço, ecoa pelo ambiente minúsculo que, rapidamente, torna-se sauna para nós duas.

Meus olhos abrem ligeiramente e encontram os castanhos que me fazem suar. Suspiro. Não é possível.

— Eu quem te pergunto... São 22h, Marília.

— Estava bebendo aqui perto, resolvi vir para poder pegar algumas coisas. Notei as luzes acesas e… Por que ainda está aqui? - Ela repete, mas dessa vez sua voz está tão melancólica. Consigo sentir o amargo do seu peito.

— Conclui quase agora a reunião com os produtores e gestores. É um belo período para realizar reuniões! - Soou sarcástica, mas aparentemente ela não compreende. — Esquece!

— Não esqueça que amanhã teremos aula! Preciso de você, Maiara.

Engulo a ríspida saliva que desce rasgando minha garganta, fazendo-me arfar silenciosamente quase em um grito. Não sei quais as pretensões de Marília, e também não sei se estou exagerando, mas não consigo mais verbalizar com ela por longos minutos ou estar no mesmo ambiente. Me sinto refém, e odeio a sensação de vulnerabilidade.

— Não poderei ir. Estou com algumas prioridades. - Indago.

Marília pisca lentamente e umedece seus lábios. Ela sabe que não poderá contar com a minha presença; e sabe que nós duas, a sós, é um acontecimento difícil. Com passos lentos, mas com o barulho pontiagudo do seu salto, Marília se aproxima de mim. Ela apoia suas mãos sob a mesa de mármore, deixando seu corpo inclinado para que seu rosto fique frente a frente com o meu. Seu hálito alcoolizado, seu batom quase apagado e os seus cabelos em um perfeito estado, fazem-me tremer e ceder um pouco. Consigo sentir seu olhar decifrar o meu temor.

— Eu preciso de você lá, Maiara. - Ela ressoa delicadamente.

— Não consigo ir, Marília. Preciso concluir uma papelada.

Por mais chateada que estou, não gosto de demonstrar meus sentimentos. Prefiro a frieza reinando em meu ser, do que a fraqueza destruindo o que demorei anos para concluir.

Na ponta do Salto - MAILILAOnde histórias criam vida. Descubra agora