Capítulo 18

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Sento à minha escrivaninha, cercada por pilhas de papéis e relatórios. O escritório é um reduto de concentração, mas meus pensamentos, vez ou outra, traem minha mente. As palavras em minhas mãos começam a perder o significado quando meu olhar vagueia pela janela, perdido em pensamentos.

Meu marido, Murilo, voltou de sua viagem recente, e a realidade desse fato ainda não se encaixa completamente em minha mente. Ele continua sendo meu amor, aquele companheiro de tantos anos, apesar da paixão que cresceu por Maiara, uma paixão que, até agora, só ousei viver em segredo.

Os dedos tentam retomar o ritmo da digitação dos relatórios, mas minha mente insiste em reviver os momentos com Maiara. Seus olhos profundos, seu sorriso cativante, sua voz suave que sussurra palavras que rasgam meu peito, apesar da contradição.

Antes que eu possa afundar ainda mais nesse abismo de pensamentos, a porta do meu escritório se abre. Lá está Murilo, com aquele sorriso familiar, olhando para mim com saudade nos olhos. Meu coração se divide entre alegria e culpa, enquanto tento esconder meus pensamentos e desviar a atenção para ele.

— Marília, querida, senti tanto a sua falta! - ele diz, se aproximando, e eu sinto um aperto no peito, sabendo que preciso lidar com essa situação complicada que me envolve.

— Meu amor. Saudade senti eu de você! - afirmei, beijando seus lábios. Murilo me envolveu em seu corpo, abraçando-me em demonstração de saudade.

— Marcela quase não me solta. Parece que uma semana longe de vocês é o suficiente para que eu entenda que não há outro lugar senão aqui.

Assunto, sorridente. Murilo sempre fora muito romântico, desde do princípio. E, desde que Marcela nasceu, aflorou ainda mais esse sentimento genuíno que ele cultivava.

Conversamos por longos minutos, e através do nosso bate-papo, consegui desvincular meus pensamentos da eloquente mulher que me tira o fôlego. Agora, estou concluindo as minhas planilhas, porém de olho em minha filha que brinca em seu tapete, completamente entretida com a variedade de brinquedos expostos.

Hoje, almoçamos em família. À tarde, fomos ao parque, nos distraímos e cultivamos ainda mais memórias afetivas. Murilo comentou sobre sua semana corrida, mas o foco é uma das perguntas que ele me fez.

"Marília, estive pensando… Não me entenda mal, mas, você já ficou com mulher?"

A sua pergunta me fez, instantaneamente, olhá-lo. Não sei de onde ele tirou essa pergunta, sendo que o assunto era completamente outro. Na hora, não obtive resposta, fiquei olhando para ele. Apenas neguei com a cabeça, mas não quis aprofundar e nem saber de onde ele tirou isso.

No caminho de volta para casa, ele ainda questiona do porquê demorei para responder, ou pela reação que tive. E na verdade, eu só não esperava.

— Uai, amor. Do nada você me faz essa pergunta, obviamente me assustei. Você nunca me perguntou nada do tipo. - comento, distraída com Marcela em meu colo.

— Ah, amor, foi uma curiosidade só. - diz Murilo, com as mãos no volante, completamente focado na direção.

— Nunca fiquei com mulheres. Sei lá, não parei pra pensar nisso. Por quê a pergunta? - Olho para ele, que também me olha.

Obviamente estou mentindo. Afinal, meu corpo estremece por cogitar transar com uma mulher; com uma só mulher…

— Você tem um jeitão! - ele imita a minha postura — Certeza que suas alunas te paqueram horrores, querida. - Murilo debocha, e sei que são apenas curiosidades, visto que é completamente monogâmico e ciumento.

— Algumas sim, mas a minha aliança destaca em meu dedo. Eu não saberia ficar com mulheres, amor. São muitas… informações. - concluo, com um suspiro pesado, talvez um pouco ofegante.

Na ponta do Salto - MAILILAOnde histórias criam vida. Descubra agora