Capítulo 13

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         Marília.

Não é engraçado como a vida nos mostra, diariamente, que o roteiro que criamos, por mais preciso e cauteloso, por vezes, não será seguido? Que independente das rotas que traçamos, alguns finais não são como idealizamos?

Alguns dizem que a vida é cruel, outros afirmam que é maravilhoso viver. E talvez eu concorde com os dois pontos de vista. Viver é uma delícia, principalmente quando estamos extasiados. Mas, viver é doído, principalmente quando não sabemos para onde ir e com quem irmos.

Acordei de ressaca, bebi erroneamente ontem. Me precipitei, fiz o que não deveria. Mas, agora, olhando para a imensidão do céu, que por sinal está nublado, percebo que estou disponibilizando muita energia para algo banal, algo que não há tanta importância assim.

O sentimento louco que ressurge dentro de mim, quando o assunto é Maiara, é inexplicável. É inevitável. Eu sei que é errado, principalmente por eu ser casada e por ela estar em um relacionamento também. Mas o que posso fazer? Quando estamos a sós, a única vontade que obtenho é de tê-la, inteiramente para mim.

Fatalidade.

Meus pés sentem a precisão do piso gélido, causando-me frieza. Minha pele arrepia brevemente. Escutei Marcela lamentar-se e prontamente me pus à sua disposição.

Peguei a pequena em meus braços, sentindo seu cheirinho adocicado de neném, e a enchi de beijos. Ela está sonolenta, portanto deita-se entre a curvatura do meu pescoço, suspirando lentamente em meu pescoço. Balanço meu corpo lentamente, ninando o meu amor que adormeceu em meus braços.

Doçura é viver ao lado de alguém tão, mas tão ingênuo, que mesmo assim é capaz de turbinar meu coração.

Observo o porta-retrato com a nossa foto. Entre nós, há o seu pai. Solto o ar pela boca. Agarro a imagem e coloco-a sob meu peito.

Amo a nossa família. Amo o Murilo. Amo o fruto do nosso amor. E me sinto completamente imerecida. Não compactuo com os meus atos. Estou dividida entre o amor e a paixão.

Surto de amor. Surto eloquente.

Querer o afago das chamas de um corpo. Necessitar de um amor tranquilo.

Os dois, mas em diferentes corpos.
 

       Maiara.

Com as mãos em meu cabelo, arranhando levemente o meu couro cabeludo, completamente impaciente com a situação. Estou errada, isso é óbvio. Ninguém consegue suportar a ausência.

Henrique está desabafando na minha frente, entre gritos e lamentações. E eu não estou paciente. Não esses dias.

— O que você quer que eu faça, Henrique? - proclamo.

— Eu quero que você me ame, como eu amo você.

Nossos olhos se encontram rapidamente. Sinto o peso das suas palavras. Respiro, com a certeza de que não o mereço. De que ele não merece.

— Mas eu amo você, Henrique.

Você me ama, Maiara? Você se quer fala comigo. Você mal me toca. Você… Você não me ama! Você está acostumada comigo, somente!

— Você não pode. Não, você não pode dizer o que sinto ou não. Você não sabe.

— E o que você sente? Me diz, Maiara. O que você sente?

— Eu…

Não consigo falar nada. A pressão suprime minhas cordas vocais. Sequer sei o que estou falando.

— Eu vou embora. Pra mim já deu! - Afirma Henrique, batendo com força a porta do meu quarto.

As lágrimas até se formam, mas não ousam cair. No fundo, eu sei que deixei de amá-lo. Pudera eu amar alguém e desejar outro alguém?

Deito sobre a cama, olhando para o teto do meu quarto. O silêncio constrange minha alma. Abraço o travesseiro procurando acalento.

— Por quê você não vai embora de vez? - sussurro, em lágrimas.

Não sei porquê me sinto assim. Não sei porquê me deixei levar. Não sei onde e como começou, só sei que sinto. E sinto muito. Mas também não sei o que sinto. É tudo muito… confuso.

— Eu não quero ir embora. Eu quero você.

— Por que não me liberta dessa paixão?

— Porque eu quero você.

— Você me tira o ar, Marília. Você me faz estremecer. Você me causa estranhas sensações. Você me deixa aérea. Você… Por quê não me liberta?

— Porque eu quero você. Eu quero muito você. - Marília sussurrou, aproximando-se lentamente, encurtando o espaço entre nós.

— Me liberta dessa obsessão. Sai dos meus pensamentos. Deixe-me em paz, Dias! - Já não consigo mais olhar em seus olhos. — Meus pensamentos rodeiam-se. Você não sai de mim. Eu tô fissurada em uma história que não aconteceu.

— Por que você não deixa acontecer, hum? - diz, colocando uma mecha atrás da minha orelha. Consigo sentir o seu hálito chamativo. — Eu quero tanto quanto você.

— Meu namorado terminou comigo. E eu não consigo sentir nada. Eu só penso em você. Você me alucina. Estou ficando louca! - Sinto o fervor do meu corpo. Fecho os olhos e pendo a cabeça para trás.

Marília apoia suas duas mãos em meu rosto, fazendo-me centralizar a cabeça e olhar em seus olhos castanhos como mel. O ar que transmite de nossos corpos me faz, lentamente, acalmar.

— Ei, - ela sussurra - estou aqui, não estou? - prossegue. — Não sairei daqui.

Seus lábios encontram os meus. Nos beijamos tão precisamente, que eu moraria nesse momento. Queria poder eternizá-lo, não só em minha mente, mas em algo material, para que eu pudesse revê-lo sempre que sentisse a necessidade.

Suas mãos são mornas e precisas. Marília me beija lentamente, fazendo-me entender o porquê da obsessão prematura. E mesmo assim custo a entender. Mas agora, estou deliciando-me com os seus lábios carnudos e macios, que devoram os meus.

Suas mãos descem até a minha cintura e apertam-me firmemente, colando meu corpo no seu. O ato descarrega uma eletricidade inimaginável. Suspiro, quase murmurando. Quero entregar-me. Não consigo refutá-la. Eu nem quero refutá-la.

Desperto, assustada com as mãos de Maraisa em minha cintura. Minha irmã me olha assustada, me julgando.

— Maiara, você está gemendo dormindo? Misericórdia, irmã. - Diz, assustada.

Reviro os olhos. Odeio a Maraisa.

Meu Deus. Foi tudo um… sonho.

Pera, tudo foi um sonho ou somente isso foi um sonho?

Droga! - lamento.

Na ponta do Salto - MAILILAOnde histórias criam vida. Descubra agora