Capítulo 01

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Hoje será minha primeira aula de dança com a minha nova professora, a última não foi agradável aos olhos dos meus pais e ele ousou procurar uma das mais renomadas no mercado. Estava um pouco chateada com a troca, sempre fui bastante disciplinada comigo mesma e odiava trocas sem avisos prévios. De acordo com o meu pai, a minha nova professora seria um salto na minha carreira como dançarina. Ele nunca gostou das professoras em que tive aulas, na cabeça dele aluno e professor não devem possuir intimidade, e por partes concordo, mas não há nada mais chato do que não possuir um grau de intimidade com o seu disciplinador.

Atrasei para o meu dia de spa, é meio contraditório já que irei suar bastante hoje durante a aula, mas precisaria de um relaxamento muscular, então vim.

O descanso que tive durante todos os procedimentos e produtos usados no meu corpo, foi incomparável. Nada é mais delicioso do que você poder relaxar, e nas melhores mãos. Martha possui mãos de fada, consegue detectar as dores articulares e me fazer relaxar logo em seguida. E eu adoro. É sempre uma honra vir ao seu estúdio.

O restante do meu dia foi dividido em: ajudar o meu pai no escritório e concluir alguns afazeres da faculdade. Ele costuma me graficar todas as vezes em que ajudo-o, mas sempre reafirmo que faço porque quero e não por interesses.

Beijei o rosto da minha mãe que cozinhava e abracei a minha irmã que acabara de chegar da viagem. Ela estava pálida, com as bochechas rosáceas. Adorava o seu rosto, mas sabia que quando atacava, incomodava muito. Alcancei a pomada em sua bolsa e com delicadeza espalhei sobre suas bochechas. Ela sorriu e me beijou. E eu sorri. Sempre foi o meu maior prazer cuidar da minha irmã, independente do meu estado, seja ele emocional ou físico. Seu sorriso sempre recompensará todo o esforço feito.

– Mamãe falou que sua aula de dança hoje será com uma nova professora, está animada?

– Sinceramente? Não, sei lá… Eu gostava da outra. – falei, sentando-me. 

– Eu vi o perfil dela, ela é bonita, parece ser gentil e profissional também.

– Não tive curiosidade e nem tenho, só irei ir hoje e nunca mais. Não quero uma nova professora.

– Não precisa ser birrenta, Maiara. - disse Almira.

– Não é birra, mamãe. Eu apenas não compactuo com algumas decisões do meu pai, só isso. - dei de ombros e levei o garfo com a comida até a boca.

– Não compactuo com o quê exatamente, pequena? - César apareceu.

Apenas olhei para ele de relance e deixamos o assunto de lado. Sempre protestei algumas atitudes do meu pai perante mim, mas não adiantava, apenas concebia já que não tinha muito controle, afinal, morava com ele. Terminei o meu jantar e segui para o meu quarto.

As meias calças que possuo estão um pouco velha, então optei por utilizar a mais nova que ainda estava com etiqueta. Ela realça bastante o meu bumbum e contorna as minhas pernas, seu tom é brilhante mas a cor é mais escura. Cobri-a com uma calça jeans, e uma blusa qualquer que achei. Em todas as aulas de dança, sempre usamos as roupas somente no ambiente. Estava farta, zero vontade de ir. Sequer escolhi direito o meu sapato, apenas enfiei na mochila o que vi pela frente.

Entrei no carro concentrada no celular, meu pai tentou chamar a minha atenção inúmeras vezes mas acabei por não notar. Estava com fones de ouvidos e digitalizando no privado do meu amigo.

– Você pode prestar atenção no seu pai, Maiara? - seu tom era de pura irritação, ergui o olhar e soltei o celular no meu colo. – Ótimo. Peço que se comporte, filha. Você já é grandinha.

Rolei os olhos, impaciente. É sério mesmo que ele vai me tratar como uma jovem de 18 anos? Cacete, eu já possuo 24.

– É sério isso, papai? Eu tô quase me formando. - voltei a digitar no celular, estava irritada o suficiente para não prestar atenção em suas falas.

Ele não falou mais nada, apenas ligou o volume da minha música favorita e abri um sorriso extremamente expansivo e genuíno. Adorava esses momentos com o meu papi, principalmente quando ele colocava a minha música favorita. Sempre fui fã da Taylor e não vejo a hora de ir para um dos seus shows.

Beijei seu rosto e sai do carro, avisando que pediria um Uber porque depois da aula iria para o restaurante. O ambiente era bem arrumado, até que bem visto. A recepcionista me guiou até a minha sala, havia vários e vários professores para determinadas danças.

Para matar a curiosidade de vocês, danço pole on heels a mais ou menos 7 anos. Sim, sempre admirei bastante essa cultura e ajudou muito na minha postura. Tinha bastante dificuldade de expandir o meu corpo, até mesmo erguer completamente a minha perna. E a dança sempre reinventou os meus sentimentos. É uma terapia, quase.

Sentei sobre a cadeira, a sala estava lotada, digamos assim. Possuía vários tipos de pessoas, até mesmo adolescentes. Não acredito que o meu pai me enfiou nisso. Distraída, só consegui ouvir a voz feminina que tentava chamar a minha atenção.

– Helou? - só pelo tom eu sentia vontade de esbofetear a cara da pessoa.

Olhei de relance e liberei um sorriso tímido, não seria falsa ou algo parecido, mas não queria forçar simpatia.

– Você não tem voz?

Não, dá pra me deixar em paz agora?

Digo…

– Sim. Prazer, Maiara Carla. - estendi a mão e nos cumprimentamos.

– Prazer é meu, me chamo Amanda e essa é a Luiza. - ela apontou para uma loira oxigenada.

E eu, como de costume, SORRI.

Na ponta do Salto - MAILILAOnde histórias criam vida. Descubra agora