Capítulo 16

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É tudo muito confuso, principalmente para mim. Não gosto de citar que tive relações com a Luiza. Me embrulha o estômago. O pior não é a veracidade dos fatos, mas sim seu indesejável retorno. Ela é perspicaz, capaz de coisas que não faço ideia e sequer quero saber. Luiza é o tipo de mulher que não aceita estar em baixo. Em todos os sentidos. É mesquinha e indestrutível. Mas não a deixarei voltar para a minha vida, não novamente.

— A Luiza está na cidade, ficou sabendo, filha? - comenta meu pai, e eu luto para não revirar os olhos na frente dele.

— Sério? Que maravilha! - minha voz transborda em sarcasmo, que não é perceptível.

— Convidei ela para jantar aqui hoje.

Estava comendo e com o garfo entre os lábios, e quase engasguei completamente ao ouvir o que meu pai fez. Não precisei falar nada, meus olhos entregavam o meu desagrado com a informação.

— Algum problema, filha? Está tudo bem? - assento com a cabeça. — Você engasgou e…

— Tudo bem, papai. Está tudo bem! - Não entrarei em detalhes, não com ele. Com ninguém. — Que horas será o jantar?

— Às 20h. Você tem algum compromisso?

— Não, somente algumas coisas da faculdade. Nada demais.

— Posso contar com você então?

Marília.

O dia estava passando como um caminhar lento de uma tartaruga. A mesma rotina. Hoje, deixei Marcela com a minha mãe. Ela ficará esse final de semana com ela. Conseguirei concluir alguns relatórios para encaminhar para a administração da Stilu's. Por questões de ausência de tempo, não consegui concluir brevemente, mas agora estou a um passo de clicar no botão "enviar".

Me distraio com a notificação de César no canto inferior do Notebook.

"Estaria disponível para um jantar hoje, às 20h, aqui em casa? Aproveitamos e conversamos sobre o andamento das reinauguração."

Leio, mas prontamente respondo que sim. Estava com preguiça de cozinhar, pelo menos não terei que lidar com meu péssimo dom na cozinha.

O restante da tarde passou rapidamente, distrai-me com algumas músicas para a produção de aulas para as minhas alunas. O número de alunas têm aumentado, mas não consigo atendê-las, por hora. Agora o meu foco tem sido à reinauguração, e para isso preciso de um foco maior; consequentemente, um tempo maior.

Estaciono meu carro e desço, respirando fundo todo o ar emanado do tempo. Com a bolsa apoiada em meu braço, jogo meu cabelo para trás e deixo com que o vento bagunce-o um pouco.

A recepção da casa Henrique é sempre muito valiosa e aconchegante. Estou na sala de espera, aguardando ansiosamente por César. Está um silêncio ensurdecedor, talvez estejam nos fundos.

Distraída em meu celular, conversando com o meu marido, ouço a voz marcante e rouca de César, convidando-me a segui-lo para a sala de jantar.

Maiara.

Mais intolerável que a irritante da Luiza, somente a Luiza. Agora, estou tendo que fingir que gosto da sua companhia, enquanto ela tagarela as inúmeras viagens que fez.

Confesso que sou bastante mimada por meu pai, o que consequentemente resultou em alguns atos inconstantes e desagradáveis. Mas ela? Ah, ela se supera, em todos os sentidos!

— Mas me diz, você não sente vontade de sair dessa cidade?

— Às vezes sim, mas por hora não.

Na ponta do Salto - MAILILAOnde histórias criam vida. Descubra agora