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Nos próximos dias, o clima ficou alvoroçado.

Todos comentavam sobre os porcos selvagens, e sobre o aprendiz de arqueiro que tinha lutado contra um deles. As pessoas olhavam para Will com um novo respeito, até mesmo admiração, e esse tipo de comportamento era mais comum ainda entre o povo da vila. Como eram pessoas simples, com o dia-a-dia limitado, tendiam a glamourizar qualquer acontecimento fora do normal.

Só tinha se passado uma semana, e a história evoluíra a tal ponto que as pessoas comentavam como Will tinha matado os dois porcos selvagens com uma só mão quando eles saíram em disparada pelo bosque. Alguns dias depois disso, falava-se que ele tinha matado os animais com uma única flecha, que atravessou o corpo do primeiro e se alojou no coração do segundo.

Eu percebia o desconforto de Will com a atenção recebida, o que foi um bom sinal para mim. Aquilo era apenas mais uma prova da honestidade e humildade do aprendiz, que diferente de nós, não enxergava o quão corajoso fora.

- Na verdade, eu não fiz muita coisa - ele disse para nós uma noite - Quer dizer, não planejei nem decidi o que fazer. A coisa simplesmente aconteceu. E, afinal, foram vocês que mataram o porco selvagem, não eu.

Halt apenas assentiu, encarando o fogo que crepitava na lareira.

- As pessoas pensam o que querem - ele disse - Nunca dê atenção demais a elas.

Mesmo assim, Will ainda parecia perturbado com a bajulação.

- E quanto a Horace? Ele foi tão corajoso quanto eu, e ninguém o trata diferente. - ele disse.

- Sir Rodney sabe que ele se saiu bem, isso basta - eu disse - Não se preocupe com isso, Will. Com algum tempo, a novidade vai passar, e as pessoas vão parar de comentar.

Diferente do povo da vila, no castelo as pessoas cumprimentavam Will pelo que ele realmente fizera, pois todos sabiam exatamente o que ocorrera. Ali Will parecia muito mais a vontade com os cumprimentos moderados, e com o fato de que agora a maioria dos cavaleiros sabiam seu nome também.

Eu imaginava que o que Will mais queria no momento era conversar com Horace, mas a oportunidade ainda não tinha aparecido. Com a reunião anual dos arqueiros se aproximando, o aprendiz estava muito ocupado se preparando para a sua primeira avaliação.

A Reunião era uma ocasião em que todos os arqueiros do feudo se reuniam para trocar informações, discutir quaisquer problemas que pudessem ter surgido no reino e fazer planos. Will, depois de sete meses de treinamento, continuava passando seus dias aperfeiçoando suas habilidades para a avaliação que lhe permitiria passar para o próximo ano de treinamento.

Outro tipo de preocupação se passava em minha mente. Desde a notícia da morte de Lorde Northolt, e a menção de um ataque de urso, uma suspeita começava a se infiltrar em minha mente. Era algo muito pequeno, e sem embasamento algum, mas sabia que a Reunião era a oportunidade perfeita de descobrir se mais algo de estranho vinha acontecendo.

Will trabalhava incansavelmente, treinando com o arco e as facas de caça e de atirar. Além disso, estava ficando cada vez melhor em se mover sem ser visto, tendo compreendido que na maioria das vezes, se ficasse imóvel, as pessoas não o veriam até que se movesse.

Além disso, ele trabalhava muito com Puxão, fortalecendo seu elo, e aprendendo a usar as habilidades do cavalo, e os tipos de mensagens que o animal poderia mandar para ele em caso de detectar alguma ameaça.

Naquele momento, Will estava treinando na vasta campina atrás da cabana. Ele tinha colocado quatro alvos em distâncias diferentes, e estava alternando os tiros aleatoriamente, nunca atirando no mesmo duas vezes seguidas. Era um exercício para que ele nunca atirasse instintivamente, sempre visualizando e mirando em um alvo específico. Além disso, Halt tinha determinado que ele não devia deixar passar mais que cinco segundos entre um tiro e outro.

A Ordem dos Arqueiros - Arqueira do Rei ➀Onde histórias criam vida. Descubra agora