Debutar? Com essa idade?

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Cheiro de chá de camomila junto a velas perfumadas com aroma de lavanda, era assim que sua cabine naquele navio cheirava, tudo aquilo para disfarçar o próprio cheiro enjoativo do garoto e evitar que as outras pessoas sentissem, afinal, estavam em uma embarcação e seria complicado se algum alfa tomasse liberdades com Matsuno.

Não era como se ele quisesse estar ali, mas sua mãe pediu, implorou e lhe ofereceu todas as recompensas imagináveis, e ele não poderia dizer não quando a mulher lhe oferecia um cavalo e mais prateleiras na biblioteca de casa para livros, era como um sonho sendo realizado.

Quer dizer... Ômegas não devem saber ler, porque assim terão intelecto suficiente par refutar decisões de seus alfas, e poderão fazer as coisas por conta própria, o que era inaceitável, certo?

E também não deveriam andar a cavalo, porque os trajes necessários para equitação exigiam calças, e um ômega não deveria andar por aí exibindo suas pernas e usando coisas coladas ao corpo. Eram pequenas regras da sociedade que Chifuyu sabia que estaria morto se desobedecesse, mas não estava ligando muito naquele momento porque havia prometo a seus pais que tentaria arrumar um marido se eles o deixassem ser um pouco mais feliz.

Mas quem se dedica totalmente a seguir regras no auge dos 19 anos? Não seria nada vantajoso, e não era como se tivesse muitos pretendentes, já que estaria "competindo" com debutantes de 14 anos, burras e muito bonitinhas, enquanto ele era estudado demais e não gostava dos padrões de beleza ocidentais, no máximo permitia que suas criadas passassem um pouco de rouge em seus lábios e bochechas, mas não gostava.

— Quando meu senhor chegar a Londres, deve lembrar de trocar seu sari por um dos lindos vestidos de cetim que a alta sociedade usa, irá ficar tão gracioso quanto qualquer ômega inglês — Uma de suas criadas falou animada enquanto penteava seus cabelos e os cortava.

Não era auspicioso que um ômega cortasse os cabelos na Índia, mas não estavam mais em casa, estavam a caminho da grande potencial mundial que a Inglaterra estava se transformando, na verdade, já deveriam estar em solo inglês a pelo menos algumas horas. E Chifuyu simplesmente odiava ter cabelos longos e femininos, oras, ele não era uma mulher!

Mesmo que suas roupas dissessem o contrário, ele estava absolutamente aliviado de poder ter pelo menos um traço masculino, então  o fato de seus cabelos enormes e loiros estarem sendo picotados era o maior motivo de alegria. A cada dia um pequeno passo, e quem sabe daqui uns meses sua mãe não o deixasse usar calças para algo além de equitação?

— Não vejo nenhum incentivo em trocar os saris pelos vestidos e espartilhos apertados — Resmungou, olhando entristecido para os cabelos no chão, o que podia fazer? Era a moda no ocidente, infelizmente teria que se enfiar nos vestidos lisos e decorados que o deixavam parecendo um anjo.

— Pare de reclamar Chifuyu! E vá vestir um dos vestidos que Ambar preparou para você — Sua mãe o encarou séria, e o loiro negou com a cabeça — Não ouse me desrespeitar! O que custa vestir?

— Mamãe, vou vestir as vestes formais quando necessário, mas enquanto puder, irei continuar usando roupas comuns — Disse firme, e a mulher apenas se deu por frustrada, cansada e enjoada pelo movimento do navio que vinham viajando.

A família Matsuno vinha de uma grande linhagem de Barões, sendo seu pai o mais rico e respeitado deles, e Chifuyu como filho único e ômega, deveria suprir as expectativas da família e ser um brilhante debutante, por isso fora mandado a Índia, para ter uma educação de ponta com o povo mais tradicional do mundo, e agora estava voltando para casa mais teimoso do que havia saído.

E sua mãe, a Baronesa, tentava esconder isso de todas as formas que conseguia, mesmo sendo muito, muito, MUITO difícil.

Tinha um plano pré-estabelecido, sabia que as roupas que estava acostumado a usar seriam escandalosas e dramáticas para os conservadores malucos da Inglaterra, então pretendia se aproveitar delas para manchar sua reputação, de modo que nenhum alfa gostaria de se casar com um ômega que mostrava pele demais, e assim ele poderia voltar para Índia e seguir seus aprendizados com os sacerdotes brâmanes.

Todos, Menos Você! - BajifuyuOnde histórias criam vida. Descubra agora