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A estação tinha sido engolida por muita mata – e se um dia aquele lugar tinha sido cenário para fotografias antes de entrar no vagão, agora as plataformas não passavam de terra, ervas daninhas e trepadeiras.

Selene olhou em direção a alguns metros do aglomerado de malas do grupo, onde se encontrava Maze, que conferia os malotes de armas mais uma vez com Sebastian e Angelie. Mesmo na plataforma iluminada apenas por lanternas mais fracas para não chamar muita atenção dos demônios e criaturas infectadas atraídas por luz, o rapaz parecia se conter entre voltar para casa e a ideia de voltar para casa.

Ambos não haviam se falado desde a revolta de Lana; mesmo após Selene ter voltado do lago com Kaine, Ginevra ainda não os havia liberado da conversa, mesmo quando todos eles já tinham arrumado as poucas coisas que tinham.

E Jason não parava de relembrar as regras, mesmo que o trem não tivesse chegado ainda.

― Sem gritaria ou conversas muito altas – retomou Jason, enquanto andava de um lado para o outro conferindo se todos os convocados estavam ali. Selene o olhou com tédio. − Permaneçam sempre no vagão a não ser que ocorra algum imprevisto, como algum ataque de demônios ou monstros...

― A gente já entendeu. – retrucou Ethan, os olhos percorrendo a lâmina afiada da lança.

― As refeições são regularizadas e racionadas, então sempre comam tudo o que for servido nos horários estipulados para não haver desperdício. – O treinador não se abalou. − Durante a madrugada, devemos viajar com as janelas fechadas para evitar atrair demônios e monstros com a luz. É possível que cheguemos na estação final, em Budapeste com conexão com o trem de Cluj-Napoca, com sorte, às 19h20.

― Deus do céu, como a Angelie te suporta todos os dias? – resmungou Agatha enquanto ajeitava a trança de Liz.

Selene sorriu, conferindo as próprias armas no uniforme antigo da Ager (para não levantar muita suspeita); a wakizashi e Odessa estavam nas aldravas no cinto atrás, as duas pistolas nos coldres e Artemisya intocada no colar.

Deu uma olhada na mão esquerda que tinha sido ferida pela Hidra; a palma voltara ao normal, e a pele morta das bolhas já havia saído – nenhum rastro de que um dia Selene havia sido atingida. Não doía também – diferentemente de suas costas que ainda davam fincadas de dor nela se fizesse movimentos muito bruscos. A parede de madeira do refeitório Exorcista tinha ficado com um buraco onde Selene foi lançada e, por sorte, Ginevra a dispensou em arrumar aquilo.

Ter sido queimada junto com ele.

Selene engoliu em seco, erguendo o queixo. Que horror em ter a voz de Lana ecoando daquele jeito.

― Selene – chamou a voz de Melanie, e Selene piscou, voltando-se para a amiga que se aproximava. Ela estava acompanhada de Aly e Lana; tinha visto a amiga conversar com as duas um pouco mais afastadas da plataforma principal, e mesmo na escuridão da noite, Selene conseguia ver os olhos de Lana como duas bolhas cheias de lágrimas.

Elementais das Trevas - Falsos Deuses #4Onde histórias criam vida. Descubra agora