Liz se abaixou e pegou o caco de vidro entremeado por um ramo de camomilas, as pontas grotescas de um pote ou garrafa destruída.
Não era o fragmento daquele mundo.
Ela suspirou, deixando o caco de vidro acima das flores de camomila como uma lente embaçada e riscada. Aquela avenida estava repleta daqueles cacos; garrafas de bebidas e de azeite quebradas no asfalto, espalhadas pela grama alta que oscilava com o vento tranquilo gelado.
Liz se levantou, observando o vasto espaço de grama adiante, a equipe segregada aqui e ali, e avistou Will agachado entre a mata, como se estivesse puxando alguma coisa, o riffle apoiado nas costas. Ela o viu sorrir e se erguer, virando-se para ela e caminhou segurando um punhado de margaridas selvagens.
― Olha que fofas – disse ao se aproximar, os olhos brilhando para as flores. – Mas acho que sempre nascem em qualquer lugar.
― Elas se parecem com camomilas também – Liz sorriu, pegando o punhado quando Will lhe entregou. Ele estava diferente daquela vez; havia se atrasado para a excursão, dando desculpas à Jorah e Mahin com um sorriso brilhante no rosto. – Você consegue diferenciá-las pelo perfume.
Ela se abaixou outra vez e puxou as camomilas, Will fungando alto enquanto inspirava o aroma ameno da flor, e Liz se lembrou que, sempre quando sentia aquele cheiro, o sabor do chá de camomila chegava até sua língua como se estivesse bebendo.
― Me lembra chá – disse o rapaz, franzindo a testa com uma risada curta.
― É bom para o sono – Liz girou o talo da flor, lembrando-se de Selene. Ela tinha tentado ajudar com a insônia da amiga usando camomila uma vez, mas não adiantara; Selene aparecia com os olhos cansados apesar de sempre dizer que estava sempre bem. Que ficara apenas algumas horas acordada até pegar no sono.
― Não fiquem parados por muito tempo – disse Mahin a alguns metros deles, sem elevar a voz demais.
Will respirou fundo, ajeitando algumas margaridas na orelha, levando mais outras no cabelo de Liz.
― Você parece feliz. – ela disse, observando o rosto dele enquanto seus dedos colocavam cuidadosamente os talinhos das flores entre os fios das mechas. – Aconteceu alguma coisa antes de virmos para cá?
― Sempre acontece alguma coisa. – ele riu.
Liz sorriu, girando a camomila entre os dedos. Desde que saíram de Pittsburgh para irem até Roma e de terem recebido uma mensagem de que Daniel e Zoey, avô e mãe de Will, haviam viajado até Salem para protegerem o lar deles dos demônios, o rapaz havia ficado consideravelmente mais quieto e reservado – além de que havia o terrível fato de Alexander não estar mais... entre eles.
Mesmo que Will estivesse feliz com a volta dos mortos – como ele falava – do avô, ainda havia uma parte dele que não havia o perdoado. Ele havia contado à Liz sobre quando era mais novo, das ofensas e chacota que sofria sobre ter nascido no Halloween e de sua mãe ter fama de bruxa devido aos seus métodos mais naturais de tratar febre e feridas da pele. De quando, nesses momentos, quem aparecia para caçoar daqueles que lhe machucavam era Daniel, fazendo uma abóbora enfeitada falar, de um espantalho sair correndo atrás das crianças.
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Elementais das Trevas - Falsos Deuses #4
FantasyElementais das Trevas - Falsos Deuses - LIVRO 4 As histórias de fantasia do avô de Selene Midnight nunca foram tão reais quanto agora: monstros de presas afiadas e escamas cintilantes perambulando pelas ruas de um mundo que era naturalmente ordinári...