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O grande olho rasgou a fenda como se dividisse um mundo em dois – no entanto, sem esforço, como cortasse um papel velho e mofado.

Os olhos de Selene, petrificados com o céu que se abria diante de si, observavam os dedos rompendo a fenda; dedos igualmente imensos, maiores que luas, estremecendo a terra ao seu redor e sob seus pés. Suas veias trovejavam nos ouvidos para que corresse – corresse como os faunos! −, mas seu corpo permaneceu imóvel, em transe pela grandiosidade que se agigantava perante seu olhar.

A pele formigou e adormeceu enquanto o mundo se abria de volta, e Selene se sentiu como um grão de pó cósmico diante da criatura. Sentiu seus lábios secarem, e se houve um momento em que ela quis chorar, não havia uma fonte de lágrimas dentro de si – esgotou-se, como se jamais tivesse um dia em que pudesse transbordar em água.

Era como olhar para uma estrela muito de perto. Irradiava luz ardente. Aquela... coisa tinha corpo humanoide, mas a maneira que aquilo se processava na mente de Selene era estranha, contornando os traços da criatura como se adaptasse a algo que jamais havia visto, corrigindo curvas e alongando os braços e pernas. Não havia uma cor especifica – alternava-se em branco ofuscante, pálido, cinzento e outrora cintilante −, e toda aquela luz, todo aquele esplendor...

Selene sentiu um suspiro escapar de seus pulmões, extasiada, de uma euforia ao se banhar daquela luminosidade apesar de queimar seus olhos...

Era familiar – como um núcleo que compartilha seu poder, algo derivado dela.

Iluminação dourada e divina.

Mas o rosto, o rosto não era nada etéreo: não havia rosto, apenas um olho que flutuava numa estrutura invisível que deveria ser um rosto ou uma cabeça, e estava coberto por um manto de luz branca. O céu vazio foi acobertado por arcos da mesma palidez ofuscante, que despontavam como plumas abaixo − eram asas. Era um par de asas, e em cada uma das plumas haviam olhos. Inúmeros olhos a encaravam de volta com a íris de ouro derretido.

A criatura era dez vezes mais imensa que um titã. Diante dela, Selene conseguia sequer piscar os olhos.

E, em muito tempo, ela sentiu um tremor percorrer as cordas desgastadas de seu coração.

Sentiu medo.

Sabe quem sou? – a criatura perguntou, inclinando o olho como um pássaro curioso.

A voz – a voz parecia como novidade em sua garganta quando finalmente conseguiu mover uma parte do corpo:

― E eu deveria saber?

A criatura − o anjo, disso ela tinha certeza −, com aquela voz estranha de mil timbres ecoou para ela:

Se soubesse, já estaria então condenada. Ou já teria ido ao meu encontro, como faço agora.

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⏰ Última atualização: May 02, 2023 ⏰

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Elementais das Trevas - Falsos Deuses #4Onde histórias criam vida. Descubra agora