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Selene sentia a escuridão.

Sabia que estava dentro dela; não enxergava. Todas as direções não escapavam do escuro, nem mesmo sobre o chão que ainda era sólido sob seus pés.

Se estendia, e tinha cheiro de mar. Apenas o perfume − no entanto, Selene não escutava as ondas, a espuma, nem a maré se afastando.

E havia o oceano de sussurros. Não era as águas quebrando nas rochas; não, cochichos, um murmúrio de vozes que pareciam se aglomerar num canto, temerosas, mas ainda assim persistentes, ali.

Aqui.

O peito de Selene estava começando a borbulhar. Ela sabia da sensação que viria.

Precisava de algo para se sustentar.

Ela agachou e tocou o chão; era como vidro frio, aquoso e ao mesmo tempo duro como mármore. Tateou à procura de uma saída ― os sussurros se aproximavam, unindo-se, e ela não conseguia discernir o que era lamentação e fúria.

A escuridão a tocou. Selene não podia ver, mas sabia que dedos entrelaçaram nos dela e a puxaram para baixo.

Selene.

Ela inspirou o ar com um ruído, abrindo os olhos, e piscou quando eles se ajustaram à luz morna da manhã. Seu olhar percorreu onde estava; um cômodo estreito, teto baixo e, ao virar...

Maze. O peito de Selene se aliviou ao vê-lo dormindo, aninhando a ela, os braços ao redor de seu corpo, a respiração sossegada, a vitalidade se restaurando em seu rosto como se apenas o ato de deitar a cabeça no travesseiro já fosse o suficiente.

Três horas é o suficiente.

Selene abriu um sorriso preguiçoso, baixando os olhos para a mão esquerda ferida. A vermelhidão não passava de uma faixa irregular rosada, e as bolhas já se tornaram pele morta.

E não havia dedos enlaçados com os seus.

Nada de sussurros.

Ela suspirou, relaxando a cabeça no braço de Maze, contemplando seu rosto. Leite, mel e canela tinham funcionado, então.

Lindo em todas as suas formas, Maze parecia tão despreocupado enquanto dormia que Selene ficou preocupada quando o despertador enfim tocasse.

Depois que Sebastian havia ido embora, aquele desgraçado, Selene e Maze deram inicio a uma sinfonia de bocejos, e a interrupção do outro Exorcista tinha quebrado o desejo e deu lugar a evidência da exaustão ― e os dois caíram na cama para dormir.

Selene contornou o rosto de Maze com o dedo, ciente das pernas dele enlaçadas com as dela sob o cobertor, da cama pequena para duas pessoas tão espaçosas.

Elementais das Trevas - Falsos Deuses #4Onde histórias criam vida. Descubra agora