Isadora DePrá - 03

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Hoje seria meu dia de folga, decidi que acordaria tarde e que jantaria com Nina e Eliza, mas Robert tinha outros planos para nós dois. Passamos a manhã na academia e depois fomos fazer um lanche junto as mulheres, Robert se dá muito bem com elas e a vida é tentar fazer eu me amigar, mas não me dou fácil com as pessoas desde a escola.

Eu era a menina que brigava com todo mundo, que tinha e ainda tem um temperamento ruim mas que aprendeu a controlar, a que ficava sozinha no intervalo das aulas e que perdia ponto por não participar de grupos em apresentações. Mas também eu era a mesma menina que quando chegava em casa se trancava no quarto e chorava por não conseguir controlar a raiva.

Isso prova o fato de que Thomáz apanhou de mim quando tentou me beijar a primeira vez no vestiário feminino. Ele ficou três dias andando com as pernas abertas por causa de um chute.

__ Ficamos sabendo o que fez com Kemilly, ela nunca te fez nada, não podia ter ajudado ela a fugir? _ encaro a cara de sonsa de uma das empregadas ao me questionar __ Somos mulheres, deveríamos nos ajudar.

__ Foda-se? A amizade de vocês não vale o meu salário e muito menos a minha vida. Não esperem que eu troque o meu dinheiro por essa vidinha inútil de vocês todas. _ digo vendo-as ficarem sérias, indignadas com o que eu falei.

__ Não espere a nossa ajuda quando precisar! _ a mais velha delas indaga.

__ O único que precisa da minha ajuda aqui é Eros, e agora ele está almoçando lá na sala de jantar, quer ir perguntar dele se eu devo protegê-las também? Estou doida pra pegar um aumento no meu salário. _ elas ficaram caladas, vendo isso, larguei a torrada com doce de leite encima da bancada e saí da cozinha levando Robert junto __ Elas acham mesmo que eu iria arriscar meu emprego para livrar Kemilly da morte? Em que planeta vivem?

__ No planeta que gira em torno delas. São putas, não sabem o que querem da vida.

Sinto meu rádio vibrar, tão logo escuto os gritos de Eros ao me chamar, ele já havia terminado de almoçar e estava em seu quarto, lutando com uma gravata. Respondi ao seu chamado deixando Robert pelo caminho e indo o mais rápido possível até seu cômodo, eu o encontrei se enforcando com a gravata e precisei usar tudo de mim para não terminar o serviço.

Meu dia de folga foi pelo ralo.

Não que ele ou qualquer outro chefe se importe, mas eu não o perdoei por não ter tentado evitar que eu sujasse minhas mãos com o sangue de alguém, de certa forma eu sabia que esse momento chegaria, mas não queria que fosse, necessariamente, agora. Eros ao me ver, sentou na beirada da cama, deu espaço para que eu ajeitasse e na força do ódio, puxei o nó do acessório para baixo.

Trinta e seis anos na costa e não sabe pôr uma gravata, só podia ser o caçula mesmo. Pensei. Endireitei a gravata em seu pescoço da maneira correta e ele respirou aliviado, mas ainda sim, não ouvi um obrigado sair de sua boca. Torna-me uma idiota que por algum motivo ainda espero isso.

__ Alguma reunião, senhor? _ questiono.

__ Farei umas compras no shopping, apenas. Quero comprar roupas e perfumes. _ alço as sobrancelhas.

__ Se me permite... _ ele assente permitindo que eu continue __ Essa roupa está muito formal, se é apenas compras, poderia ir apenas com uma calça jeans e uma camisa polo.

__ Realmente. Pegue em meu closet algo que combine comigo. _ respiro fundo e vou até o cômodo que parece uma mini casa.

Peguei uma calça jeans azul marinho e uma camisa de botões da cor rosa, saí arrastando uma correntinha mais grossa da que normalmente ele usa em seu dia a dia e entreguei a Eros. O mesmo se levantou para trocar de roupa e eu me virei de costas para não ver seu corpo, respeitando seu espaço e privacidade.

Sempre Você | 1° Livro - TrilogiaOnde histórias criam vida. Descubra agora