VII - Conhecendo

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Sett era descolado, e sabia que era incrivelmente atraente dirigindo o seu Mustang GT500, mas havia algo que ele não compreendia: como Aphelios conseguia manter seus olhos em qualquer lugar que não fosse em si? Ah, qual é, Settrigh nunca teve problemas em atrair caras héteros, nem mesmo comprometidos, então qual era o problema daquele cara? Será que ele tinha mesmo um relacionamento mesmo com aquele magricela? 

Sett olhou de soslaio para Aphelios que observava a paisagem da janela.

— Você gosta da cidade noturna? — puxou papo e tragou um pouco do cigarro eletrônico, jogando a fumaça aromatizada pela janela.

— "A noite é encantadora. Não é sempre que consigo ter essa oportunidade." — a voz artificial respondeu.

— Cê não dirige?

— "Não, muito menos tenho carro."

Os pais dele não tinham carro? Talvez...

— Mora sozinho?

Aphelios ficou em silêncio por alguns segundos.

— "Moro com uma responsável que me adotou."

Aquilo fez Sett se sentir mais do que surpreso. Jamais imaginaria que Aphelios era adotado, talvez por ele ser primo da Diana e serem tão parecidos.

— Então você e a Diana não são primos de sangue? — Sett notou desconforto vindo de Aphelios quando ele apertou a mão contra a outra. — Eita, foi mal. Eu não consigo segurar minha curiosidade, mas não quis tocar em um assunto difícil.

Aphelios digitou no celular por um momento, e parecia apagar e escrever algumas vezes.

— "Tudo bem. Não devia ser tão incômodo eu falar disso, mas algumas feridas ainda doem, por mais que eu cresça, elas me acompanham."

Sett se sentiu um merda por ter o feito pensar em algo doloroso e sua reação impensada foi buscar pela mão de Aphelios, mesmo que ainda dirigisse. A alcançou e a segurou com cuidado, surpreendendo-o com sua ação. E para a surpresa de Sett, a mão do Lunari era fria, mas muito macia. Não evitou de afagá-la antes de passar a marcha junto a mão dele. 

— Minha mãe me disse certa vez que as feridas infantis são as mais difíceis de cicatrizar porque construímos nossos pilares em cima delas.

Sett sorriu para Aphelios.

— Minha mãe é psicóloga, e ela adora esfregar as coisas na minha cara pra me deixar autoconsciente. — Sett virou o volante com uma mão apenas, se recusando a soltar a de Aphelios, que o permitia continuar o toque. — Eu também lido com uma merda assim. Meu pai nos abandonou quando eu ainda era um pirralho e nunca consegui entender isso. Eu meio que construí um pilar em cima dessa ausência, tentando suprir o papel do homem de casa desde cedo, e nutrindo o ódio como um monstro faminto. 

Sett parou o carro em frente a sua casa. Já haviam chegado, mas não quis terminar aquele assunto sem uma conclusão:

— É meio merda, perdi a minha infância tentando ajudar minha mãe emocionalmente e financeiramente porque ela tava tão mal que não conseguia mais trabalhar, mas a única coisa que eu sabia era aproveitar da minha força, então comecei a lutar e apostar. Isso virou o meu vício.

Sett olhou Aphelios, notando seus olhos atentos e brilhantes. O ruivo se sentiu acolhido quando sentiu o Lunari retribuir suavemente o aperto na mão. Aphelios transitava suas orbes pelas de Sett de uma maneira encantadora, fazendo-o não se arrepender de expor tanta coisa de uma vez. Aquilo certamente não era do seu feitio, mas algo o fazia tagarelar quando aquele rapaz estava em jogo.

Aphelios abandonou a mão de Sett com calma, mas o ruivo entendeu que precisava disso para que o moreno conversasse.

"Por que você está se abrindo tanto comigo?" ele sinalizou. "O que te leva a confiar em mim?"

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