IX - Melhor que dorama

177 21 2
                                    

Empacotava os vidros quebrados em uma caixa para que fossem recolhidos com segurança, quando Lisi se aproximou com a Rajada em seus braços.

— Precisamos conversar sobre ele.

Sett suspirou com a fala da mãe, e dando um tempo para sua resposta, acabava de lacrar a quarta caixa de cacos de vidro.

— Mãe... agora não.

Lisi sequer se incomodou com o jeito em que foi chamada.

— Você sabe que precisamos.

— Por favor. — Sett fechou os olhos, tentando retirar a imagem chorosa de Aphelios da mente.

Lisi suspirou, levando Rajada para um lugar mais seguro que aquela sala, deixando-o sozinho por alguns minutos. O ruivo se empenhava em limpar aquele cômodo como se aquela fosse a única alternativa de tirar os olhos apavorados da sua lembrança, mas a cada pá que enchia de vidros e jogava na quinta caixa, mais Sett se martirizava.

Era um misto de ódio e frustração.


Por que não foi o suficiente?

Por que não foi capaz de ajudá-lo?

Por que não conseguiu acalmá-lo?

Por que não previu nada?

Como pôde deixá-lo se machucar daquela forma?

Como pôde deixá-lo fugir daquele jeito?

Como pôde deixá-lo sozinho naquele estado?

— Filho... — a voz doce de Lisi tirou Sett do transe. — Você tá bem?

Aquela pergunta pegou no fundo de sua alma, e a forma como lhe doeu mostrou que estava pior do que imaginava. Sett nunca gostou de expor suas fraquezas, principalmente para a mãe por temer preocupá-la, mas naquele momento se sentia incapaz de mentir.

Talvez, só daquela vez, ele pudesse pedir pelo colo da mãe.

Sett, com as orelhas para trás, tentou olhar para a mãe. Mas novamente o rosto apavorado de Aphelios surgiu em sua mente, o fazendo desistir. Olhou para baixo, caindo as orelhas. Se sentia arrasado.

As mãos macias da mãe alcançaram a sua nuca, puxando sua cabeça para apoiar a testa no pescoço dela.

— Vou chamar alguém pra limpar isso pra gente amanhã, vamos só... tentar descansar de hoje.

Sett esfregou a testa no pescoço quentinho da mãe, manhoso, mas não menos triste. Lisi afagou os fios ruivos.

— Que merda foi aquela, mammys?

— Eu não sei, filho... mas foi assustador.



Aphelios não havia aparecido na faculdade na manhã seguinte.

Em exceção dos professores durante a lista de chamada, ninguém mais pareceu sentir sua falta, e aquilo definitivamente era o completo oposto do que Settrigh sentia. Cansado pela noite em claro, o dia passou como uma tortura. Sequer conseguia dormir, mesmo que os olhos pesassem como toneladas, e para o desespero de Sett graças à ausência prolongada de Aphelios, o resto da semana foi uma merda por igual.

Talvez estivesse envolvido demais em suas próprias frustrações, porque por onde passava as pessoas notavam sua situação através das suas canalizações de estresse, visto que arrastava brigas por onde quer que fosse. Yasuo até tentou evitar as confusões alertando os colegas de classe e os demais conhecidos sobre o mau humor de Sett, e graças a isso conseguiu fazer a Ashe controlar o seu namorado da outra turma para evitar o confronto entre o lutador e o berserker, mas ainda assim não conseguiu evitar a discussão entre ele e algumas garotas da sala (que resultou em insultos e pedido um de licença ao ruivo por parte da professora Elize), e a briga entre ele e Draven, um briguento da outra sala, este que teve que ser salvo pelo irmão mais velho, que sabendo do histórico de Sett, apenas afastou o caçula para longe.

AtormentadoOnde histórias criam vida. Descubra agora