XVIII - Aberração rancorosa

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Sett não dormiu bem, muito menos conseguiu descansar. Verdade seja dita, a sensação que sentiu no meio daquele pesadelo não deixou sua consciência, e começava a afetar o seu corpo também. O banho que tomou não o aqueceu, livrando-o do suor frio, e o chuveiro não relaxou seus músculos, pois continuava tenso, com os ombros pesados. Não o bastante, por onde andava sentia aquela sensação amarga de ser observado, e sensações estranhas tiravam a sua concentração, assustando-o, atormentando-o.

Coçava a nuca enquanto olhava a comida do café da manhã que a mãe havia feito. Pela primeira vez na vida não sentia fome ou vontade de comer, e aquilo era surpreendente. Deveria comer mesmo assim? Era arriscado perder musculatura?

Uma nova sensação o incomodou, fazendo franzir o cenho, mas não a compreendia. Determinado a tirar da cabeça, Sett alcançou o celular, enquanto golava vagarosamente o suco de couve e beterraba, sem muita vontade. Se separou com uma mensagem de poucos minutos de Soraka, tão formal quanto sempre:

Sokara

Bom dia, Sett. Como você está?

Por acaso você já foi para a faculdade? Atrasei com o café e tenho receio de não chegar a tempo... gostaria de ver com você se há possibilidade de me dar uma carona.

6:16



The Boss

opa

bão?

vou nuns 15 min

eu passo ai

6:20


Sokara

Tá bom, obrigada! Estarei esperando em frente a minha casa.

6:20

Sett se esforçou para comer uma torrada e seguiu para a suíte do seu quarto a fim de escovar os dentes. Quando saiu, se deparou com a cama desarrumada, e um flash de memória da noite anterior alcançou sua mente: Aphelios o engolindo com gula, o olhando no fundo dos olhos enquanto chupava-o com força. Aquela lembrança foi o suficiente para arrepiar-lo por completo e acordar a sua excitação.

Mordeu os lábios com frustração.

— Se ele tivesse acordado comigo, a gente não ia perder tempo indo pra faculdade.

Lembrar que fora abandonado pela manhã o deixou chateado, sentimento esse forte o suficiente para adormecer sua excitação. Suspirou, desanimado, e seguiu para passar mais perfume, pôr um relógio mediano e calçar um tênis limpo e confortável.

Desceu as escadas vagarosamente, topando com sua mãe o olhando descer. O olhar estranho e as sobrancelhas franzidas deixou Sett preocupado.

— Mammys? Que foi?

O olhar dela era desconfiado. As orelhas semi-levantadas, os olhos alertas e as sobrancelhas franzidas.

— O Aphelios veio aqui ontem?

A pergunta pegou Sett de surpresa, fazendo o seu coração acelerar. Será que ela tinha ouvido algo?? Mas do seu quarto quase nenhum som escapava das paredes.

— Erhh... — ele não sabia mentir pra ela. — Sim. Nós... incomodamos a senhora?

Ela semicerrou os olhos, encarando Sett como se enxergasse a alma dele.

— Vocês transaram?

Sett esbugalhou os olhos pela pergunta indiscreta da mãe. Ela não era disso.

— Ma— mammys... — ele balbuciou.

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