Expurgação

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Como se não estivesse em seu próprio corpo, Sett dissociava. As imagens que seus olhos capturavam eram rápidas demais para o seu corpo, mas lentas demais para a sua mente. Os sentimentos eram fracos, mas incrivelmente intensos, e tudo aquilo o deixava tonto por sentir que o seu cérebro tinha dificuldade em codificar e absorver as informações que passavam pela sua visão tão remota.

Observou Aphelios se retirar em câmera lenta, repleto de constrangimento e tristeza. A sua imagem borrada criava vultos que eram deixados para trás, e Sett poderia alcançá-lo rapidamente para impedi-lo, para dizer que sentia muito no fundo do seu coração, mas não conseguia. Aphelios estava estranhamente veloz, por mais lento que parecesse. Mas, mais do que isso, não se arrependia de nada.

Mas ele não tinha culpa, não deveria ter gritado com ele, ele não merecia.

Merecia sim, afinal, era culpa dele se agora estava assim agora.

Yuumi o olhou uma última vez antes de se retirar atrás de Aphelios, eram aqueles mesmos olhos ressentidos e magoados que a recriminaram quando foi descoberta. Descoberta de quê?

Eu odeio ela. É culpa dela que não conseguimos estar juntos outra vez.

— O que são esses pensamentos? — Sett perguntou confuso, tocando sua cabeça que latejava. Tocar sua cabeça era estranho. Não a sentia na ponta dos dedos. Estava mesmo tocando-a?

— Filho? — Lisi o chamou, mas ele se levantou decidido, a ignorando. Afinal, aquela não era a sua mãe. — Sett?

— Estou indo para faculdade. — o meio vastaya disse numa formalidade irreconhecível, deixando Lisi com uma sensação estranha.

— … Vá com cuidado. — a vastaya disse, observando o seu filho sair a pé, sem optar por utilizar sua moto ou carro. Franziu o cenho. Ele nunca saía a pé. — Tem algo errado.



Quando chegou na faculdade, Sett ignorou todos os cumprimentos que recebeu, deixando todos receosos por terem que lidar com ele de mau humor. Yasuo fez uma anotação mental: “Avisar para Ashe e Darius segurarem a barra do namorado e do irmão para que não brigassem com Sett”.

Quando se sentou na cadeira, sentiu o celular vibrar, e desinteressado, Sett o desbloqueou, era uma tal de Sokara.

Sokara

Aconteceu alguma coisa?

6:38

Sett? Você vem?

6:42

Não precisa vir mais, acabei me encontrando com a Sarah Fortune, ela vai me dar carona. Me avisa se tiver acontecido alguma coisa.

6:56

Só visualizou e bloqueou o celular, sem vontade de respondê-la. A maçaneta da porta se mexeu, fazendo um barulho maior do que achou que ouviria, talvez pelas orelhas sensíveis, e lá estava ele, com os olhos avermelhados pelo choro. Bem feito, ele mereceu.

— Aphelios, pode entrar. — o professor disse.

Sett seguiu Aphelios com um olhar julgador que aparentemente o incomodou, visto que apenas abaixou a cabeça, se encolhendo. Não adianta fazer essa cara, você mereceu, eu te avisei.

A aula era tediosa. Um professor grande, cabeludo e barbudo tagarelava, sempre usando referências de animais para abordar as poses. Pra quê tudo isso se a fé é o bastante?

— Para alguém que sempre tenta desafiar minhas manifestações, você está bem quieto hoje, Sett. — o professor interrompeu a aula ao fazer a observação em um tom divertido, tentando chamar a atenção do seu aluno. O ruivo pareceu não se atinar que falava consigo, e aquilo incomodou o professor, visto que sabia que a sua aula era uma das únicas que o meio-vastaya se interessava em toda a faculdade. — Sett?

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⏰ Última atualização: Jun 17 ⏰

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