Incertezas

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Me pergunto: o que leva uma pessoa a pensar demais em uma coisa ao ponto de se esquecer de todo o restante do mundo?

Por exemplo, eu deveria ter ido buscar meu jaleco na costureira ontem, porém faz dois dias que não consigo tirar da cabeça a garota que socorri, nem por um momento. E agora, para o meu azar, a minha única alternativa é usar o de Ino emprestado.

Oras, mas o que tem de mais em usar algo da melhor amiga?

É uma pergunta lógica e a resposta é bem simples: Ino está grávida de três meses e já adaptou todo o seu guarda roupa para a nova fase de sua vida, ou seja, estou indo para o trabalho nesse exato momento com algo próximo de uma cabana branca e enorme dentro da minha bolsa.

— Você nem ficou tão ruim assim nele. — Ino tenta me consolar, os olhos azuis presos ao espelho de bolsa que  traz na mão. — Na próxima, lembre-se de que sem jaleco um médico não trabalha. — ainda com a atenção no seu próprio reflexo, ela retira um batom vermelho do bolso e começa a pintar os lábios carnudos. E, ciente de que eu a observo, faz um bico em minha direção quando conclui sua magnífica e invejável obra. Maldita.

— Está anotado, nunca mais quero ter que pedir algo emprestado a você.

— Ótimo, — ela me dá um sorriso caloroso. — eu nunca mais quero ter que te emprestar alguma coisa novamente. — e volta-se para a frente como se nada tivesse acontecido.

Me sinto tentada a rebater, mas lembro que 99,9% do que caminha ao meu lado é puro hormônio, então escolho a decisão mais coerente a se tomar nessa situação: eu me calo.

— Eu ainda não contei para ele. — Ino diz depois de um curto período em silêncio e quando já estamos há poucas quadras do hospital. Percebo certa tensão em sua voz e ela me olha como se estivesse enfrentando muito mais do que realmente demonstra.

— Para qual dos dois? — pergunto discreta e atenta ao redor, a última coisa que eu gostaria nesse momento é o ouvido de terceiros na nossa conversa.

— Gaara. — suspira, abaixando o olhar para as suas mãos. — Tenho medo da reação dele. E se por acaso ele pensar que fiz de propósito? E se ele não acreditar em mim quando eu disser que não tenho certeza sobre quem é o pai do meu bebê e alegar que somente o usei naquela noite? E se ele nunca mais olhar na minha cara? E se ele quiser levar o meu filho para Suna? — o olhar dela torna-se desesperado e eu sou obrigada a agir rápido antes que ela arranque os próprios cabelos.

— Calma, Gaara não é assim. — gesticulo com as mãos. E embora eu tenha dito isso apenas para acalmá-la e tirar as ideias malucas da cabeça loira dela, me sinto estranha por defender alguém que não conheço o suficiente para isso.

Eu não sei do que o Kazekage da areia é capaz, ele pode sim fazer tudo isso o que Ino teme, porém, como melhor amiga, é meu dever fazê-la acreditar no contrário e no que julgo ser o mais lógico.

— O Sai surtou! — o desespero toma conta dela novamente, seus olhos azuis estão imensos. — E você já viu alguma vez o Sai surtar?! — berra. — Estamos falando do Sai!!!

Por um momento, mesmo que seja errado, sinto vontade de rir dela. Se estivéssemos paradas, eu tenho a absoluta certeza de que ela agarraria meus ombros e me sacudiria como um pé de acerola.

— Quando falou com ele? Achei que tivessem terminado.

— Sim, terminamos. — ela olha para frente, estamos apenas a alguns passos do hospital agora. — Mas com três meses já é um pouco difícil esconder a barriga. — suspira sofridamente. — Achei melhor esclarecer tudo com ele de uma vez, o tempo não está ao meu favor nessa situaçãor. Tem três dias que o encontrei e disse tudo, agora só falta o outro. — seu corpo estremece.

Através do tempo - Kakasaku Onde histórias criam vida. Descubra agora